O Conde de Monte Cristo - Cap. 2: O pai e o filho Pág. 8 / 1080

Capítulo II - O pai e o filho

Deixemos Danglars, a braços com o génio do ódio, tentar soprar contra o companheiro alguma maligna suposição ao ouvido do armador e sigamos Dantès, que, depois de percorrer a Cannebière em todo o seu comprimento, entrou na Rua de Noailles, em seguida numa casita situada ao lado das Alamedas de Meilhan, subiu rapidamente os quatro andares de uma escada escura e, segurando-se ao corrimão com uma das mão se comprimindo com a outra as pulsações do coração, parou diante de uma porta entreaberta que deixava ver um quartito até ao fundo.

Era naquele quarto que morava o pai de Dantès. A notícia da chegada do Pharaon ainda não chegara aos ouvidos do velhote, o qual, empoleirado numa cadeira, se entretinha a prender com mão trémula algumas capuchinhas e clematites que trepavam ao longo do ripado da janela.

De súbito, sentiu-se agarrado pela cintura e ouviu uma voz bem conhecida exclamar atrás dele:

- Meu pai, meu bom pai! O velho soltou um grito e virou-se; depois, ao ver o filho, deixou-se transportar nos seus braços, muito trémulo e palidíssimo.

- Que tens, pai? - perguntou o rapaz, inquieto. - Estás doente?

- Não, não, não, meu querido Edmond, meu filho, meu menino, não. Mas não te esperava, e a alegria, a surpresa de te ver assim de repente... Ah, meu Deus, parece-me que vou morrer!

- Pronto, sossega, pai! Sou eu, sou mesmo eu! Sempre ouvi dizer que a alegria não faz mal e por isso entrei assim, sem preparação. Vamos, sorri-me em vez de me olhares dessa maneira, com os olhos esgazeados. Estou de volta e vamos ser felizes.

- Ah, ainda bem, rapaz! - exclamou o velho. - Mas vamos ser felizes como? Não me deixas mais? Anda, conta-me em que consiste a tua felicidade!

- Que o Senhor me perdoe - disse o rapaz - por me regozijar com uma felicidade conseguida à custa do luto de uma família! Mas Deus sabe que não desejei essa felicidade. Uma vez, porém, que aconteceu, não está mais na minha mão, não consigo afligir-me. O digno comandante Leclère morreu, meu pai, e é provável que graças à protecção do Sr. Morrel me deem o seu lugar. Compreende, meu pai? Comandante aos vinte anos! Com cem luíses de soldo e parte dos lucros! Não é mais do que podia realmente esperar um pobre marinheiro como eu?

- Sim, meu filho, sim, de facto é uma felicidade - disse o velhote.

- Por isso, quero que com o primeiro dinheiro que ganhar tenha uma casinha com jardim para plantar as suas clematites, as suas capuchinhas e as suas madressilvas... Mas que tens, pai, dir-se-ia que te sentes mal....

- Calma, calma! Isto não é nada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069