O Conde de Monte Cristo - Cap. 43: A Casa de Auteuil Pág. 423 / 1080

- Oh, senhor, ela ainda lhe não pertencia - respondeu ingenuamente Bertuccio.

- De quem era então? Do Sr. Marquês de Saint-Méran, creio que foi o que nos disse o porteiro. Que diabo tinha o senhor contra o marquês de Saint-Méran para se querer vingar dele?

- Oh, não era dele, senhor, era doutro!

- Que estranha coincidência - murmurou Monte-Cristo, parecendo submeter-se às suas reflexões - vir ter por acaso, sem qualquer preparação, a uma casa onde se deu uma cena que lhe causa tão horríveis remorsos...

- Senhor, tenho a certeza de que é à fatalidade que se deve tudo isto - declarou o intendente. - O senhor começa por comprar uma casa precisamente em Auteuil, e essa casa é aquela onde cometi um assassínio; depois, o senhor desce ao jardim precisamente pela escada que ele desceu, e pára precisamente no sítio onde ele recebeu a punhalada... A dois passos daí, debaixo desse plátano, estava a cova onde ele acabava de enterrar a criança. Nenhuma dessas coisas se deve ao acaso, não, porque nesse caso o acaso assemelhar-se-ia demasiado à providência.

- Vejamos então, Sr. Corso: suponhamos que tudo isto é obra da providência; suponho sempre tudo o que quero... De resto, é necessário fazer concessões aos espíritos doentes. Vejamos, puxe pela memória e conte-me o que se passou.

- Contei-o apenas uma vez e foi ao abade Busoni. Coisas destas -acrescentou Bertuccio, abanando a cabeça - só se dizem no segredo da confissão.

- Nesse caso, meu caro Bertuccio - redarguiu o conde achará natural que o devolva ao seu confessor. Far-se-á com ele frade cartuxo ou bernardo e confiarão um ao outro os seus segredos. Pela minha parte, receio ter ao meu serviço um homem que tem medo de semelhantes fantasmas e não me agrada que o meu pessoal se não atreva a passear de noite no meu jardim. Depois, confesso, não apreciaria muito a visita de algum comissário de polícia. Porque, tome nota disto, mestre Bertuccio: na Itália, só se paga à justiça quando ela se cala, mas em França só se lhe paga, pelo contrário, quando ela fala. Apre! Julgava-o um bocadinho corso, muito contrabandista e habilíssimo intendente, mas verifico que ainda possui outras capacidades. Não quero mais nada consigo, Sr. Bertuccio.

- Oh, senhor, senhor! - exclamou o intendente, aterrorizado com semelhante ameaça. - Oh, se é preciso apenas isso para que continue ao seu serviço, falarei, direi tudo! E se o deixar, que seja para subir ao cadafalso.

- Bom, assim é diferente redarguiu Monte-Cristo. - Mas se tenciona mentir, pense bem: será melhor não dizer nada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069