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Capítulo 48: Ideologia

Página 482
A isto chama-se muito simplesmente na língua humana, como lhe dizia, uma apoplexia. Vá, se lhe agradar, continuar esta conversa em minha casa, Sr. Conde, num dia em que lhe apeteça defrontar um adversário capaz de o compreender e ansioso por o refutar, e mostrar-lhe-ei meu pai, o Sr. Noirtier de Villefort, um dos mais ardentes jacobinos da Revolução Francesa, isto é, a mais brilhante audácia posta ao serviço da mais poderosa organização; um homem que, como o senhor, talvez não tivesse visto todos os reinos da Terra, mas ajudou a destruir um dos mais poderosos; um homem que, como o senhor, se pretendia um dos enviados, não de Deus, mas sim do Ser Supremo, não da Providência, mas sim da Fatalidade. Pois bem, senhor, a ruptura de um vaso sanguíneo num lobo do cérebro destruiu tudo isso, não num dia, não numa hora, mas sim num segundo. Na véspera, o Sr. Noirtier, antigo jacobino, antigo senador, antigo carbonário, ria da guilhotina, ria do canhão, ria do punhal; pois o mesmo Sr. Noirtier que brincara às revoluções, o Sr. Noirtier para quem a França não passava de um vasto tabuleiro de xadrez do qual peões, torres, cavalos e rainha deviam desaparecer para que o rei levasse mate; o Sr. Noirtier, tão temível, era no dia seguinte o pobre Sr. Noirtier, um velho imóvel, à mercê dos caprichos da pessoa mais fraca da casa, ou seja, da sua netinha Valentine; um cadáver mudo e gelado, enfim, que vive sem sofrimento, apenas para dar tempo à matéria de chegar sem sobressaltos à sua inteira decomposição.

- Infelizmente, senhor - redarguiu Monte-Cristo – esse espectáculo não é estranho nem aos meus olhos nem ao meu pensamento. Sou um nadinha médico e tenho, como os meus colegas, procurado mais de uma vez a alma na matéria viva ou na matéria morta; e, como a Providência, ela permaneceu invisível a meus olhos, embora presente no meu coração. Cem autores, desde Sócrates, desde Séneca, desde Santo Agostinho, desde Gall, fizeram em prosa ou em verso a comparação que o senhor acaba de fazer; mas apesar disso compreendo que sofrimentos de um pai possam operar grandes transformações no espírito do filho. Irei, senhor, uma vez que se digna convidar-me, contemplar, em beneficio da minha humildade, esse terrível espectáculo que muito deve entristecer a sua casa.

- Assim seria, sem dúvida, se Deus me não tivesse amplamente recompensado. Diante do velho que desce, arrastando-se para a sepultura, perfilam-se duas crianças, que entram na vida: Valentine, filha do meu primeiro casamento com Mademoiselle de Saint-Méran, e Edouard, o filho a quem o senhor salvou a vida.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 482

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069