Os três jovens conversavam juntos. Olharam para o pai e para o filho, mas muito naturalmente os seus olhos detiveram-se mais tempo no último, que examinaram com minúcia.
- Cavalcanti... - disse Debray.
- Um belo nome - acrescentou Morrel. - Que figura!
- Sim - disse Château-Renaud -, é verdade, os italianos denominam-se bem, mas vestem-se mal.
- Você é difícil de contentar, Château-Renaud - contrapôs Debray. - Aquela casaca é de um excelente alfaiate e novinha em folha.
- É precisamente isso que lhe critico Aquele cavalheiro tem ar de quem se veste assim hoje pela primeira vez.
- Quem são aqueles senhores? - perguntou Danglars ao conde de Monte-Cristo.
- Bem ouviu: são os Cavalcanti.
- Fico esclarecido quanto ao nome, mas mais nada.
- É verdade, o senhor não está ao corrente da nossa nobreza de Itália. Quem diz Cavalcanti diz estirpe de príncipes.
- Boa fortuna? - perguntou o banqueiro.
- Fabulosa.
- Que fazem?
- Procuram gastá-la sem o conseguirem. Aliás, têm créditos sobre o senhor, segundo me disseram quando me visitaram anteontem. Convidei-os até em sua intenção. Hei-de apresentar-lhos.
- Mas parece-me que falam muito correctamente o francês - observou Danglars.
- O filho foi educado num colégio do Meio-Dia, em Marselha ou nos arredores, creio. Verá pelo seu entusiasmo.
- A propósito de quê? - perguntou a baronesa.
- Das francesas, minha senhora. Está absolutamente decidido a casar em Paris.
- Que rica ideia! - exclamou Danglars, com desdém, encolhendo os ombros.
A Sr.ª Danglars fitou o marido com uma expressão que em qualquer outro momento pressagiaria tempestade, mas pela segunda vez calou-se.
- O barão parece hoje muito sombrio - observou Monte-Cristo à Sr.ª Danglars. - Por acaso terão querido fazê-lo ministro?
- Ainda não, que eu saiba. Creio antes que jogou na Bolsa, que perdeu e que não sabe como se justificar.
- O Sr. e a Sr.ª de Villefort! - gritou Baptistin.
As duas pessoas anunciadas entraram. O Sr. de Villefort, apesar do seu domínio sobre si mesmo, estava visivelmente impressionado. Quando lhe apertou a mão, Monte-Cristo sentiu-a tremer.
«Decididamente, não há como as mulheres para saberem dissimular», disse Monte-Cristo para consigo, vendo a Sr.ª Danglars sorrir ao procurador régio e beijar a mulher deste.
Depois dos primeiros cumprimentos, o conde viu Bertuccio, que, ocupado até ali do lado da copa, se esgueirava para uma salinha contígua àquela onde se encontravam.
Foi ter com ele.
- Que deseja, Sr. Bertuccio? -perguntou-lhe.
- V. Ex.a não me disse quantos convidados eram.
- Ah, é verdade!
- Quantos talheres?