Os passos sonoros do comendador não apavoraram mais D. João do que me apavoraram aqueles passos. Por fim, a porta abriu-se. Albert de Morcerf entrou à frente e eu ia a duvidar de mim mesmo, ia crer que me enganara, quando atrás dele apareceu outro rapaz e o conde gritou: «Ah, o Sr. Barão Franz de Epinay!» Para me conter, apelei para tudo o que possuo de energia e coragem no coração. Talvez tenha empalidecido, talvez tenha tremido; mas sem dúvida nenhuma fiquei de sorriso nos lábios. No entanto, passados cinco minutos sai sem ter ouvido uma palavra do que se disse durante esses cinco minutos. Estava aniquilado.
- Pobre Maximilien! - murmurou Valentine.
- Aqui tem, Valentine. Agora responda-me como a um homem a quem a sua resposta dará a morte ou a vida: que conta fazer?
Valentine baixou a cabeça; estava acabrunhada.
- Ouça - disse Morrel -, não é a primeira vez que pensa na situação em que nos encontramos. É uma situação grave, penosa, suprema. Não creio que seja este o momento para nos entregarmos a uma dor estéril; isso é bom para aqueles que sentem prazer em sofrer e beber as suas lágrimas resignadamente. Há pessoas assim e Deus ter-lhes-á sem dúvida em conta no Céu a sua resignação na terra. Mas todo aquele que sinta vontade de lutar não perde um tempo precioso e retribui imediatamente ao destino o golpe que dele recebeu. Está disposta a lutar contra a adversidade, Valentine? Responda, pois é isso que lhe venho pedir.
Valentine estremeceu e cravou em Morrel uns grandes olhos assustados. A ideia de resistir ao pai, à avó, a toda a família, enfim, nem sequer lhe ocorrera.
- Que me diz, Maximilien? - perguntou Valentine. - A que chama luta? Oh, isso é um sacrilégio! O quê, eu lutar contra a ordem de meu pai, contra a vontade de minha avó moribunda?! É impossível! - Morrel fez um movimento. - O senhor é um coração demasiado nobre para me não compreender, e compreende-me muito bem, querido Maximilien, pois vejo-o calado. Lutar, eu? Deus me livre! Não, não. Guardo toda a minha energia para lutar contra mim mesma e beber as minhas lágrimas, como o senhor diz. Quanto a afligir meu pai, quanto a perturbar os últimos momentos da minha avó, nunca!
- Tem toda a razão - respondeu fleumaticamente Morrel.
- Como o senhor me diz isso, meu Deus! - exclamou Valentine, magoada.
- Digo-lhe isto como um homem que a admira, menina - acrescentou Maximilien.
- Menina! - exclamou Valentine. - Menina! Oh, o egoísta, não vê o meu desespero e finge não me compreender!
- Engana-se. Pelo contrário, compreendo-a perfeitamente.