Retórica, gramática e lógica, se alguém quiser tratá-las neste prédio, entretenha-se lá em baixo no pátio com o porteiro, ou com as viúvas e órfãos, que pedem pão com a lógica da desgraça, e com a retórica das lágrimas; gramática não sei eu se a fome a respeita: parece-me que não, porque na representação nacional há famintos que a não exercitam primorosamente. (Murmúrio e agitação na direita. Aplausos na galeria. Um «bravo» estrídulo do desembargador Sarmento. Um cauteleiro dá palmas na galeria popular. A tolice é contagiosa. O presidente sacode a campainha. Restabelece-se o silêncio. Calisto Elói tabaqueia da caixa do radioso abade de Estevães).
O presidente: — Relembro, já com mágoa, ao Sr. deputado que se abstenha de divagações alheias do debate.
O orador: — De maneira, Sr. presidente, que V. Exa. quer à fina força subjugar as minhas pobres ideias em aprisoamento, como disse gentilmente o ilustre colega!
Pois assim sou esbulhado de um sacratíssimo direito? É então certo, como disse o Sr. Dr. Libório, que não há direito em Portugal?
V. Exa., sem o querer, está sendo, na frase ingrata do ilustre deputado, o substituto do anjo S. Miguel! (Riso) Oh! V. Exa. não será algoz do pensamento, já de si tão entanguido que não é mister matá-lo: basta deixá-lo morrer… Calar-me-ei, se estou magoando V. Exa.. Vozes: — Fale! Fale!
O orador: — O ilustre colega referiu o que já vem contado no livro do Sr. Dr. Aires de Gouveia: que o nosso rei D. Miguel, já mancebo saído da puerícia, se entretinha a maltratar animais, chegando um dia a ser encontrado arrancando as tripas a uma galinha com um saca-rolhas.