Devo poupá-la a discursos, aliás curiosos, de agradáveis e históricas notícias; mais tarde V. Exa. ouvirá com interesse as alianças travadas entre os meus maiores e os de meu parente Gonçalo Teles de Teive. Achou, pois, V. Exa. um parente em Portugal. Boa estrela nos fez confluir a Lisboa; em boa hora me deixei vencer das instâncias dos meus constituintes.
— Eu estou maravilhada!… — exclamou Ifigénia. — Há pressentimentos prodigiosos!… Que força estranha era esta que me impelia para V. Exa.!? Subi as escadas de sua casa com desusada afoiteza. Comecei a falar-lhe com segurança e tranquilidade extraordinárias! Não me lembrei que estava diante de um cavalheiro, que podia entender-me falsa e desairosamente… Enfim, eu falava a V. Exa. como se deve falar… a um primo.
— E mais que tudo a um amigo. E, como amigo, ouso perguntar a V. Exa. qual é actualmente a sua situação.
— Francamente responderei. Entrei em Lisboa com dinheiro, que poderia bastar a minha económica subsistência de dois anos; porém, como ao fim de três meses não se me antolhava amparo de ninguém, nem esperanças de alcançar a paga dos serviços de meu marido, pensei em trabalhar para não exaurir o pecúlio que tinha. Li um anúncio, convidando mestra de línguas inglesa e francesa para colégio. Confiei bastante em mim, e apresentei-me aos directores. Falei francês, e cuidaram que eu nascera em França; quanto a inglês, deram-me como bastante conhecedora da língua. Pareceu-me que a minha posição melhorava; mas enganei-me. Eu levava comigo o fatal condão de algumas mulheres; dizem que ainda não estou velha nem feia…
— Que favor lhe fazem, minha senhora! — atalhou Calisto mui risonho.