Farpeados pela viperina língua dele, os fidalgos provincianos retaliavam quanto podiam a prosápia dos Benevides, propalando que naquela família se gerara um clérigo grande femeeiro, beberrão e lambaz, a quem o santo arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, uma vez, perguntara que nome havia; e, como quer, que o padre respondesse Onofre de Benevides, o arcebispo acudira dizendo: «Melhor vos acertara com o nome, segundo a vida que fazeis, quem vos chamara de Bene bibis e male vivis.» O remoque, talvez por ser de santo, era medianamente engraçado e pouco para afligir; assim mesmo Calisto Elói, à conta desta injúria dos fidalgos comarcãos, tanto lhes esgaravatou nas gerações, que descobriu radicalmente serem quase todas de má casta.
É supérfluo dizer-se a qual doutrinação política pendia o ânimo do morgado da Agra de Freimas. Estava com a decisão das Cortes de Lamego. Fizera-se nelas, e cuidava ter assistido, em 1145, àquele congresso mitológico, e ter conclamado com Gonçalo Mendes da Maia, e com Lourenço Viegas, o Espadeiro: Nos liberi sumus, rex noster liber est. Todavia, se assim fossem todos os doutrinários políticos, a gente apodreceria na mais refestada paz e supina ignorância do andamento da humanidade.
Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda queria que se venerasse o passado, a moral antiga como o monumento antigo, as leis de João das Regras e Martim de Ocem, como o mosteiro da Batalha, as Ordenações Manuelinas como o convento dos Jerónimos.