A Queda de um Anjo - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 93 / 207

O homem dava ar de quebranto e melancolia, salvo se o júbilo se lhe introvertera ao coração. Creio que era isto. Era o amor abscôndito a magoá-lo docemente. E a não ser o amor, o que poderia ser senão as calças de xadrez? De feito, o amor, quando é sério, põe às canhas o mais pespontado espírito, e o mais mazorral também. O amoroso de grande loquela volve-se canhestro em presença da sua amada; o sandeu tem inspirações e raptos, que seriam influxo do céu, se não soubéssemos que o demónio tentador costuma incubar-se e parvoejar eloquentemente no corpo destes palermas.

Calisto Elói pagou o tributo dos espíritos esclarecidos. Umas eloquentes simplezas, com que ele costumava alegrar o auditório; as máximas joviais de Supico e outras com que ele intermeava a conversação; as gargalhadas provincianas, as liberdades desmaliciosas, o ar de família com que ele se fazia bem-querer e desculpar de alguma demasia menos urbana do que faculta a convenção das salas; tudo isto, que lhe ia tão bem ao morgado, se demudou em recolhimento cogitativo, sombra triste e acanhada parvulez.

Nesta noite, concorreu à partida do desembargador aquele Vasco da Cunha, galanteador de Adelaide, mancebo bem composto de sua pessoa, sisudo, e muito católico. Este fidalgo, representante dos melhores Cunhas, mencionados na «História Genealógica da Casa Real», além do brilho herdado, estava-se gozando de lustre propriamente seu, figurando sempre nos anúncios pios em que os fiéis eram convidados a assistir a tal festividade religiosa, ou convocando assembleias de irmandades, para o fim de consultas atinentes à maior pompa do culto divino.





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