Quanto mais vivemos mais reparamos que há duas espécies de cristianismo: urna centrada em Jesus e no mandamento «Amai-vos uns aos outros»! -; a outra centrada, não em Paulo, ou Pedro, ou João o Bem-Amado, mas no Apocalipse. Há o cristianismo da ternura. Porém, se eu chegar até onde me é dado ver, totalmente marginalizado pelo cristianismo que autoglorifica: a autoglorificação dos humildes.
Não há meio de o impedir: a humanidade cai sempre numa divisão entre aristocratas e democratas. Durante a era cristã, os mais puros aristocratas sempre pregaram a democracia. Mas os mais puros democratas, esses tentam virar-se para a mais absoluta aristocracia. Jesus, tal corno os apóstolos João e Paulo, era um aristocrata. Só um grande aristocrata é capaz de grandes ternuras, delicadezas e altruísmos: a ternura e a delicadeza da força. O democrata, esse manifesta-nos muitas vezes a ternura e a delicadeza da fraqueza, o que é bem diferente. Mas transmite, em geral, urna sensação de dureza.
Não estamos a referir-nos a partidos políticos, mas a duas naturezas humanas de espécies diferentes: dos que se sentem de alma forte, e dos que se sentem fracos. Jesus, Paulo e, o maior deles, João, sentiam-se fortes; mas João de Patmos sentia-se, no mais fundo da alma, fraco.