Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 16: XVI

Página 104

- Sim?! Pois aí está, vês? Não tinha razão para isso. A Margarida é outra coisa. O Sr. Daniel não falou ainda com a Margarida?

- continuou Clara, já mais senhora sua, e fazendo uso desimpedido do olhar, que fitou no interpelado. - Ela é que saberia responder bem. Quando quer, sabe dizer coisas... Até o Sr. Reitor, muitas vezes, não tem que lhe responda. O Pedro que diga.

Pedro fez sinal de assentimento.

Este duo em honra de Margarida não causou grande impressão em Daniel, que continuava a fitar Clara, com persistente atenção, encantado pelo timbre daquela voz, por aqueles movimentos, cheios de graça e vida, e pela inimitável expressão do olhar, meio de bondade, meio de malícia, que ainda a branda claridade da Lua fazia realçar o seu fulgor.

A conversa tomou, pouco a pouco, familiar e jovial carácter de intimidade. Só, alguma vez, uma frase mais cortesã de Daniel vinha tirar a Clara a frieza de ânimo necessária à resposta - isto com grande estranheza sua, pois não se tinha por demasiado tímida.

- Pobre João Semana! - dizia Clara em um dos seus momentos de malícia. - Quem mais o chamará agora, depois de haver na terra médico novo?

- Está enganada - respondeu Daniel - ; quando mais ninguém o chamasse, teria por si a melhor de todas as freguesias, a das raparigas.

- Agora! E então porque o haviam de querer?

- Porque os médicos novos têm o mau costume de desejarem saber das doenças do coração e dessas não se querem elas tratar.

- Não sei porque não; pois não são tão perigosas? Eu sempre ouvi dizer que se morria disso.

- Se se morre?! Morre-se a todo o momento até. Mas, pelos modos, é um morrer, de que se gosta.

- Deixe lá; sempre é morte, não pode ser muito boa.

- Ora! Morre-se a cantar:


Dá-me a vida com teus beijos
Já que por beijos morri.

<< Página Anterior

pág. 104 (Capítulo 16)

Página Seguinte >>

Capa do livro As Pupilas do Senhor Reitor
Páginas: 332
Página atual: 104

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 6
III 12
IV 16
V 25
VI 31
VII 35
VIII 43
IX 52
X 59
XI 65
XII 74
XIII 81
XIV 88
XV 95
XVI 102
XVII 109
XVIII 119
XIX 127
XX 134
XXI 139
XXII 147
XXIII 153
XXIV 161
XXV 170
XXVI 179
XXVII 187
XXVIII 192
XXIX 198
XXX 212
XXXI 219
XXXII 225
XXXIII 232
XXXIV 240
XXXV 247
XXXVI 256
XXXVII 261
XXXVIII 271
XXXIX 280
XL 296
XLI 306
XLII 316