Daí por diante começavam a ser mais frequentes as habitações, e, ao barulho que fazia a égua sobre o terreno sólido e nas pedras soltas do caminho, assomava a cada janela uma cabeça e João Semana recebia um cumprimento e um convite para jantar, a ambos os quais ele correspondia com benevolente familiaridade e às vezes com gracejos, sempre bem recebidos e festejados.
Logo ao princípio, foi um velho, em mangas de camisa e de cabeça já despovoada de cãs, que, segurando uma enorme tigela de caldo de tronchuda e vagens, coroado por uma pirâmide de boroa esmigalhada, apareceu à porta da cozinha, e disse com a boca meia ocupada por mantimentos, e sorrindo:
- É servido do meu jantar, Sr. João Semana? É pobre, sim, mas dado com a melhor vontade.
- Obrigado, tio José das Bicas, vou ver se lá em casa a Joana tem também o meu caldo em bom andamento.
- Então vá com a graça do Senhor, vá, que o calor não se sofre.
- Está picante, está. - E, andando sempre e falando já com as costas voltadas, perguntou: - E como vão os seus milhos, Sr. José?
- Ora!... Nem me fale nisso! A sequeira é muita.
- Veremos se para a lua nova haverá mudança de tempo.
- Deus o queira.
- Há-de querer.
E prosseguiu no seu caminho.
Mais adiante, foi uma mulher idosa que espreitou do postigo de uma casa meia arruinada.
João Semana desta vez foi o primeiro a saudar.
- Bons-dias, tia Rosa. Então como vai lá o seu velho? Fero e rijo, hem?
- Muito agradecida a V. Ex.a. Está fraquinho ainda, e por isso...
- Pois que saia, que saia. É preciso também trabalhar por deitar fora as moléstias; nós não podemos fazer tudo. Que passeie, diga-lhe que passeie. O mais que lhe pode acontecer, é que dêem com ele as moças, mas disso não se morre.