- Já não está em idade para tanto, Sr. Doutor.
- Fie-se nele, fie-se nele; olhe que são os piores.
E, dando uma gargalhada, dobrou a esquina e tomou por outra rua.
Do interior de um pardieiro saiu-lhe ao encontro uma rapariga do povo, magra, remendada e com o rosto que denotava aflição.
- Muito boas-tardes, Sr. João Semana - disse a pobre rapariga, com voz chorosa.
- Que temos lá, Maria? alguma novidade?
- É que... - dizia ela hesitando e baixando os olhos.
- Fala; despacha-te, que vou com pressa.
- É que me esqueci do que me disse daquele remédio para minha mãe...
- Então onde diabo tinhas tu o juízo, galo doido? Ai que vocês andam-me com essas cabecinhas não sei por que terras, e eu que vos ature depois. Aposto que te lembras melhor do que te disse ontem o teu conversado?
- Ora, o Sr. João Semana tem coisas! É que não sei se o remédio era todo para uma vez, ou...
- É o que eu te digo; é o que eu te digo. Estouvada! cabeça no ar! Quantas vezes te repeti que era para três porções. Cuidas que não tenho mais que fazer, do que andar sempre a cantar a mesma cantiga por esse mundo de Cristo? Ora vamos!
- E há-de ser distante das comidas, que?...
- Que diabo aprendeste tu então de tudo o que te recomendei, fazes favor de me dizer? Pois não te expliquei, cabeça de bugalho, que era para lho dares, meia hora depois das comidas? Que tinhas tu nos ouvidos?
- Muito agradecido, Sr. João Semana; e perdoe por as almas, mas... a gente tem tanta coisa na cabeça...
- Valha-te uma figa.
E quando a rapariga se ia já a retirar, ele acrescentou, mudando de tom:
- Olha cá, ó Maria. Ouves?
A rapariga voltou-se. Levava os olhos vermelhos de chorar.
- Então que diabo é isso? Porque choras tu?
- Nada, Sr.