A formiga parou, tenteou com as antenas o estorvo, assim de repente lançado no seu caminho, examinou-o de todos os lados, depois, talvez que por capricho - porque até os insectos têm, a meu ver, seus caprichos - deu-lhe para desprezar o alimento e deitou a fugir.
Daniel insistiu, colocando-lhe outra vez o pão na passagem; o mesmo exame da parte da formiga e a mesma rejeição final. Nova tentativa de Daniel foi ainda seguida do mesmo resultado. Era de mais a sua paciência; com um sopro fez voar migalha e formiga pela janela fora.
E, mais outra vez, ficou sem entretenimento.
Pôs-se a passear no quarto; primeiro descrevendo ziguezagues; depois, procurando conservar os pés na linha de juntura de tábuas do soalho; em seguida, medindo escrupulosamente a passos regulares o comprimento e a largura do rectângulo do aposento; e, feita esta última operação, multiplicou os resultados obtidos, como se tomasse muito a peito o cálculo daquela área.
Completa essa tarefa, e, depois de alguns bocejos expressivos de enfado, procedeu ao trabalho, não menos importante, de equilibrar na ponta do dedo mínimo uma vara de marmeleiro.
Cansou-o cedo a violência do exercício, no qual de mais a mais não foi muito feliz; este mau êxito desgostou-o, como se naquilo tivera posto a sua reputação.
Acendeu um cigarro, comprado no único e mal fornecido estanco da terra. O papel parecia porém apostado a impacientá-lo, era incombustível; o tabaco tinha crepitações que, aos ouvidos de Daniel, soavam como risadas de mofa; e os lumes prontos, aqueles perfeitos e elegantes lumes prontos de pau, primitivos modelos da indústria nacional, bem conhecidos de nós todos, perdiam a cabeça à primeira tentativa feita para os inflamar... faziam-na perder também a Daniel, diria eu, se se usassem ainda os trocadilhos.