- A minha!? E também te é precisa, filha?
- É, sim; pudera não. Já o disse ao Sr. Reitor e ele concordou.
- Sois todos muito bons para comigo. Mas que te hei-de eu dizer? Que te diz o coração?
- Ora o coração...
- O coração, sim. Porque não? Quando é bom, como é o teu, deve-se sempre ouvir; e... quer-me parecer que já o consultaste, antes de mim.
- Falo a verdade: É certo que já.
- E que te disse ele?
- Aconselha-me a... a que sim.
- Que mais queres?
- Que também me aconselhes.
- O mesmo que o coração, já se sabe.
- Não, senhora; com franqueza, aquilo que pensares.
- E quem é o teu noivo?
- O Pedro do José das Dornas.
- Ah!... Por certo que é bom casamento. Conquanto pouco conheça ainda esse rapaz, ouço dizer que honrado, trabalhador, e...
de mais a mais está bem.
- Então, aprovas?
- Se te fosse necessária a minha aprovação, dir-te-ia que estimo até muito que se faça esse casamento; e que sejas feliz.
Clara abraçou-a com efusão, e correu a dar parte ao reitor do resultado da entrevista.
Margarida ficou só.
O que acabara de ouvir da boca da irmã deixara-a pensativa. A ideia de que à vida de Clara em breve se ia associar a de uma pessoa estranha, não podia deixar de lhe fazer sentir graves preocupações pelo destino dela e seu.
Era um problema proposto à solução do futuro, e Deus só sabia como o futuro o teria de resolver. Clara ia entrar na vida de família; ia cedo transformar em amor de esposa e de mãe todos aqueles tesouros de sentimentos que, até então, a ela só confiara, a ela, a Margarida, à desvalida da sorte, à órfã e esquecida sempre, e talvez que, dali em diante, ainda mais esquecida e mais desamparada de afectos! Ao pensar nisto, não podia evitar certa angústia de coração.