O Conde de Monte Cristo - Cap. 27: O relato Pág. 222 / 1080

- Aí está como Deus recompensa a virtude, senhor - comentou Caderousse. - Veja, eu que nunca pratiquei uma má acção, exceptuando a que lhe contei, estou na miséria; eu, depois de ver morrer a minha pobre mulher da febre, sem poder fazer nada por ela, morrerei de fome como morreu o Tio Dantès, enquanto Fernand e Danglars nadam em ouro.

- Porque diz isso?

- Porque tudo lhes correu bem, ao passo que às pessoas honestas tudo corre mal.

- Que foi feito de Danglars, o mais culpado, não é verdade, o instigador?

- Que foi feito dele? Deixou Marselha e empregou-se por recomendação do Sr. Morrel, que ignorava o seu crime, como secretário de um banqueiro espanhol. Durante a guerra de Espanha encarregou-se de parte dos fornecimentos ao Exército francês e enriqueceu. Então, com esse primeiro dinheiro, jogou na Bolsa e triplicou, quadruplicou os seus capitais. Viúvo da filha do seu banqueiro, casou com uma viúva, a Sr.ª de Nargonne, filha do Sr. de Servieux, camareiro do actual rei, e que goza de enorme influência. Tornou-se milionário e fizeram-no barão. Portanto, agora é o barão Danglars, tem um palácio na Rua do Mont-Blanc, dez cavalos nas cavalariças, seis lacaios na sua antecâmara e não sei quantos milhões nos seus cofres.

- Ah! - exclamou o abade num tom singular. - E é feliz?

- Se é feliz? Quem pode garantir isso? A felicidade ou a infelicidade é o segredo das paredes. As paredes têm ouvidos, mas não têm língua. Se se é feliz com uma grande fortuna, Danglars é feliz.

- E Fernand?

- Fernand já não é o mesmo, também.

- Mas como pôde enriquecer um pobre pescador catalão sem recursos nem educação? Não compreendo, confesso.

- Nem compreende ninguém. Deve ter na vida qualquer segredo estranho que ninguém sabe.

- Mas, enfim, por meio de que degraus visíveis subiu a essa alta fortuna ou a essa alta posição?

- A ambas, senhor, a ambas! Possui ao mesmo tempo fortuna e posição.

- O que me diz parece um conto de fadas.

- A verdade é que o caso tem todo o aspecto disso. Mas escute que já vai compreender.

«Alguns dias antes do regresso de Napoleão, Fernand foi às sortes. Os Bourbons deixaram os Catalães muito quietinhos, mas quando Napoleão chegou decretou um recrutamento extraordinário e Fernand foi obrigado a partir. Eu também parti, mas como era mais velho do que Fernand e acabava de casar com a minha pobre mulher, mandaram-me apenas para a costa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069