O Conde de Monte Cristo - Cap. 28: Os registos das prisões Pág. 229 / 1080

- Oh, senhor, infelizmente os seus receios não podem ser mais fundados e tem na sua presença um homem desesperado! - exclamou o Sr. de Boville. - Tinha duzentos mil francos colocados na casa Morrel, todo o dote da minha filha que contava casar dentro de quinze dias. Esses duzentos mil francos eram reembolsáveis, cem mil em 15 deste mês e cem mil em quinze do próximo mês. Avisei o Sr. Morrel de que desejava que o reembolso fosse feito pontualmente e ele veio aqui apenas há meia hora dizer-me que se o navio Pharaon não entrar daqui até ao dia 15 lhe será impossível pagar-me.

- Mas isso assemelha-se muito a um subterfúgio - observou o inglês.

- Diga antes, senhor, que se assemelha a uma falência! - gritou o Sr. de Boville, desesperado.

O inglês pareceu reflectir um instante e depois perguntou:

- Assim, senhor, esse crédito inspira-lhe receios?

- Para ser mais exacto, considero-o perdido.

- Bom, nesse caso compro-lho.

- O senhor?

- Sim, eu.

- Mas com uma desvalorização enorme, sem dúvida?

- Não, por duzentos mil francos. A nossa casa - acrescentou o inglês, rindo - não se dedica a esse género de negócios.

- E o senhor paga...

- Em dinheiro.

E o inglês tirou da algibeira um maço de notas de banco que devia ascender ao dobro da importância que o Sr. de Boville receava perder.

Um relâmpago de alegria passou pelo rosto do Sr. de Boville.

No entanto, fez um esforço sobre si mesmo e disse:

- Senhor, devo preveni-lo de que segundo todas as probabilidades, não cobrará mais de seis por cento dessa importância.

- Isso não é comigo - respondeu o inglês. - Isso é com a casa Thomson & French, em nome da qual procedo. Talvez a ela interesse precipitar a ruína de uma casa rival. Tudo o que sei senhor, é que estou pronto a entregar-lhe essa importância em troca da sua transmissão. Apenas pretendo uma comissão de corretagem.

- Claro, senhor, é justíssimo! - exclamou o Sr. de Boville. - A comissão é habitualmente de um e meio; quer dois! Quer três? Quer cinco? Quer mais, enfim? Diga!

- Senhor - respondeu o inglês, rindo -, sou como a minha casa, também não me dedico a essa espécie de negócios. Não, a minha comissão de corretagem é de natureza muito diferente.

- Diga, senhor. Estou às suas ordens.

- O senhor não é inspector das prisões?

- Sou, há mais de catorze anos.

- Possui registos de entrada e saída?

- Sem dúvida.

- A esses registos devem estar juntas notas relativas aos prisioneiros?

- Cada prisioneiro tem o seu processo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069