O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 258 / 1080

- Mas não tenho licença para caçar nessa ilha.

- Vossa Excelência nem precisa dela, a ilha está deserta.

- Por Deus, uma ilha deserta no meio do Mediterrâneo é coisa curiosa - observou o jovem.

- É natural, Excelência. Esta ilha é um banco de rochedos e em toda a sua extensão talvez não haja uma jeira de terra arável.

- A quem pertence a ilha?

- À Toscana.

- Que caça encontrarei lá?

- Milhares de cabras-monteses.

- Que vivem lambendo as pedras? - observou Franz com um sorriso de incredulidade.

- Não, mas sim pastando as urzes, as murtas e os lentiscos que crescem nos seus intervalos.

- Mas onde dormiria?

- Em terra, nas grutas, ou a bordo, na sua capa. Aliás, se Vossa Excelência quiser poderemos partir imediatamente a seguir à caçada. Como sabe, navegamos tão bem à vela de noite como de dia, e na falta da vela temos os remos.

Como restava ainda bastante tempo a Franz para se juntar ao companheiro e já não tinha de se preocupar com o seu alojamento em Roma, aceitou a proposta, que talvez lhe permitisse ressarcir-se do mau resultado da primeira caçada.

Ao ouvirem a sua resposta afirmativa, os marinheiros trocaram algumas palavras em voz baixa.

- Então, que temos de novo? - perguntou. - Surgiu alguma impossibilidade?

- Não - respondeu o patrão -, mas devemos prevenir Vossa Excelência de que a ilha está em contumácia.

- Que significa isso?

- Significa que como Monte-Cristo é desabitada e serve às vezes de descanso a contrabandistas e piratas que vêm da Córsega, da Sardenha ou de África, se qualquer sinal denunciara nossa presença na ilha seremos forçados, no regresso a Liorne, a fazer uma quarentena de seis dias.

- Diabo, ai está uma coisa que modifica tudo! Seis dias!... Precisamente tanto tempo quanto precisou Deus para criar o mundo. É um bocadinho de mais, meus filhos.

- Mas quem dirá que Vossa Excelência esteve em Monte-Cristo?

- Oh, eu não! - exclamou Franz.

- E nós também não - garantiram os marinheiros.

- Nesse caso, vamos para Monte-Cristo.

O patrão comandou a manobra; aproaram à ilha e a embarcação começou a navegar na sua direcção.

Franz esperou que a operação estivesse concluída e quando tomaram a nova rota, a vela foi enfunada pela brisa e os quatro marinheiros reocuparam os seus lugares, três à proa e um ao leme, reatou a conversa.

- Meu caro Gaetano - disse o patrão - acaba de me dizer, se me não engano, que a ilha de Monte-Cristo servia de refúgio a piratas, o que me parece uma caça muito diferente das cabras.

- Sim, Excelência, e é verdade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069