O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 268 / 1080

De resto, dizem que a porta não se abre com uma chave, mas sim com uma palavra mágica.

- Decididamente - murmurou Franz - estou metido num conto das Mil e Uma Noites.

- Sua Excelência espera-vos - disse atrás dele uma voz que reconheceu ser a da sentinela.

O recém-chegado vinha acompanhado de dois homens da tripulação do iate. Como única resposta, Franz tirou um lenço da algibeira e apresentou-o ao que lhe dirigia a palavra.

Sem dizerem nada, vendaram-lhe os olhos com um cuidado denunciador do receio de que cometesse qualquer indiscrição.

Depois, pediram-lhe que jurasse que não tentaria de qualquer modo tirar a venda.

Jurou.

Então, os dois homens pegaram-lhe cada um por um braço e ele caminhou, guiado por ambos e precedido pela sentinela.

Após uma trintena de passos adivinhou, pelo cheiro cada vez mais apetitoso do cabrito, que voltava a passar diante do acampamento. Em seguida, fizeram-no continuar o seu caminho durante mais cerca de cinquenta passos, dirigindo-se, evidentemente, para o lado onde não tinha deixado penetrar Gaetano - proibição que se explicava agora. Em breve, pela mudança da atmosfera, compreendeu que entrava num subterrâneo. Ao cabo de alguns segundos de marcha ouviu um estalido e pareceu-lhe que a atmosfera mudava mais uma vez de natureza e se tornava tépida e perfumada. Por fim, sentiu os pés pisarem um tapete espesso e fofo. Os guias deixaram-no. Reinou um momento de silêncio e uma voz disse em bom francês, embora com sotaque estrangeiro:

- Seja bem-vindo a minha casa, senhor. Pode tirar o lenço.

Como facilmente se calcula, Franz não esperou que lhe repetissem o convite. Tirou o lenço e encontrou-se na presença de um homem de trinta e oito a quarenta anos, vestido à tunisina, isto é, de barrete vermelho, com uma grande borla de seda azul, jaqueta de tecido preto toda bordada a ouro, calças cor de sangue de boi largas e tufadas, polainas da mesma cor, bordadas a ouro como a jaqueta, e babuchas amarelas.

Apertava-lhe a cintura uma magnífica faixa de caxemira, adornada com um punhalzinho agudo e curvo.

A despeito da sua palidez quase lívida, aquele homem possuía um rosto notavelmente belo: olhos vivos e penetrantes, nariz direito e quase nivelado com a testa, o que indicava o tipo grego em toda a sua pureza, e dentes brancos como pérolas, que se salientavam admiravelmente sob o bigode preto que os enquadrava.

Só a palidez era estranha. Dir-se-ia um homem que estivera fechado durante muito tempo num túmulo e que não conseguira recuperar a carnação dos vivos.

Sem ser alto, era elegante, e como os homens do Sul tinha as mãos e os pés pequenos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069