O Conde de Monte Cristo - Cap. 90: O duelo Pág. 858 / 1080

Monte-Cristo inclinou-se para ela e levantou-a nos braços; e ao ver aquele belo rosto pálido, aqueles belos olhos fechados e aquele belo corpo inanimado e como que abandonado, ocorreu-lhe pela primeira vez a ideia de que ela talvez o amasse de forma diferente daquela como uma filha ama o pai.

- Infelizmente - murmurou com profundo desânimo -, tudo me é negado... E ainda poderia ser feliz! Depois, levou Haydée para os seus aposentos e entregou-a, sempre desmaiada, aos cuidados das suas criadas. E regressando ao seu gabinete, que desta vez fechou cuidadosamente, recopiou o testamento destruído.

Quando acabava, ouviu-se o ruído de um cabriolé que entrava no pátio. Monte-Cristo aproximou-se da janela e viu descer Maximilien e Emmanuel.

- Bom - disse para consigo -, era tempo! E lacrou o testamento em três sítios.

Um instante depois ouviu ruído de passos na sala e foi ele próprio abrir a porta. Morrel apareceu no limiar.

Chegara mais cedo cerca de vinte minutos.

- Talvez tenha vindo demasiado cedo, Sr. Conde, mas confesso-lhe francamente que não consegui dormir um minuto e que o mesmo aconteceu a toda a gente lá em casa.

Necessitava de o ver firme na sua corajosa decisão para eu próprio ganhar coragem.

Monte-Cristo não pôde ficar indiferente a esta prova de afeição, e não foi a mão que estendeu ao jovem, mas sim os dois braços que lhe abriu.

- Morrel - disse-lhe com voz emocionada -, é um belo dia para mim este em que me sinto estimado por um homem como o senhor. Bons dias, Sr. Emmanuel. Acompanham-me, portanto?...

- Meu Deus, duvidou disso?! - protestou o jovem capitão.

- Mas se eu não tivesse razão...

- Escute: observei-o ontem durante a cena da provocação, pensei na sua firmeza toda esta noite e disse para comigo que a justiça devia estar do seu lado ou então já não havia que fiar na expressão dos homens.

- Contudo, Morrel, Albert é seu amigo...

- Um simples conhecimento, conde.

- Não o viu pela primeira vez no mesmo dia em que me viu a mim?

- Vi, sim, é verdade. Mas que quer, É necessário que mo lembre para que eu o recorde.

- Obrigado, Morrel.

Em seguida tocou uma vez a campainha e disse a Ali, que apareceu imediatamente:

- Toma, manda entregar isto ao meu notário. É o meu testamento, Morrel. Se eu morrer, tomará conhecimento dele.

- Como? Se eu morrer?... - estranhou Morrel.

- Devemos prever tudo, caro amigo. Mas que fez ontem depois de me deixar?

- Fui ao Tortoni, onde, como esperava, encontrei Beauchamp e Château-Renaud. Confesso-lhe que os procurava.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069