O Conde de Monte Cristo - Cap. 94: A confissão Pág. 888 / 1080

- Respondia... respondia que aquela morte não fora natural e que era necessário atribuí-la...

- A quê?

- Ao veneno!

- Deveras? - disse Monte-Cristo, com a tossezinha ligeira que nos momentos de grande emoção lhe servia para disfarçar quer o seu rubor, quer a sua palidez, quer ainda a própria atenção com que ouvia.

- Maximilien, ouviu realmente dizer isso?

- Ouvi, meu caro conde, ouvi, e o médico acrescentou que se o caso se repetisse se julgaria obrigado a comunicá-lo à justiça.

Monte-Cristo escutava ou parecia escutar com a maior calma.

- Pois bem - prosseguiu Maximilien -, a morte feriu terceira vez e nem o dono da casa nem o médico fizeram nada. Agora a morte vai ferir talvez pela quarta vez. A que lhe parece que o conhecimento deste segredo me obriga?

- Meu caro amigo - disse Monte-Cristo -, parece-me que acaba de contar uma aventura que ambos sabemos de cor. Conheço a casa onde ouviu isso, ou pelo menos conheço uma idêntica; uma casa onde há um jardim, um chefe de família, um médico... uma casa onde se verificaram três mortes estranhas e inesperadas... Bom, olhe para mim, que não interceptei nenhuma confidência, mas que no entanto sei tudo isso tão bem como o senhor; tenho porventura escrúpulos de consciência? Não! Isso não me diz respeito. Diz que um anjo exterminador parece designar essa casa à cólera do Senhor; pois bem, quem lhe garante que a sua suposição não é uma realidade? Não veja as coisas que não querem ver aqueles que têm interesse em vê-las. Se for a justiça e não a cólera de Deus, não passeie por essa casa, Maximilien, vire a cara e deixe passar a justiça de Deus.

Morrel estremeceu. Havia qualquer coisa ao mesmo tempo lúgubre e solene, para não dizer terrível, no tom do conde.

- Aliás - prosseguiu este numa voz tão diferente que dir-se-ia que estas últimas palavras não saíram da boca do mesmo homem. - Aliás, quem lhe garante que isso continuará?

- Já continuou, conde! - exclamou Morrel. - Por isso corri para sua casa.

- Bom, que quer que eu faça, Morrel? Quer por acaso que previna o procurador régio?

Monte-Cristo articulou estas últimas palavras com tanta clareza e em tom tão vibrante que Morrel se levantou de súbito e gritou:

- Conde! Conde, o senhor sabe de quem estou a falar, não sabe?!

- Perfeitamente, meu bom amigo, e vou provar-lho pondo os pontos nos ii, ou antes, dando os nomes aos homens. O senhor passeou uma noite no jardim do Sr. de Villefort. De acordo com o que me disse, presumo que foi na noite da morte da Sr.ª de Saint-Méran. Ouviu o Sr. de Villefort conversar com o Sr. de Avrigny da morte do Sr. de Saint-Méran e da não menos surpreendente da marquesa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069