O Conde de Monte Cristo - Cap. 100: A aparição Pág. 937 / 1080

Capítulo C - A aparição

Como dissera o procurador régio à Sr.ª Danglars, Valentine ainda não estava restabelecida.

Quebrada pela fadiga, conservava-se de cama e foi no seu quarto e da boca da Sr.ª de Villefort que tomou conhecimento dos acontecimentos que acabamos de contar, isto é, da fuga de Eugénie e da prisão de Andrea Cavalcanti, ou antes de Benedetto, assim como da acusação de assassínio formulada contra ele.

Mas Valentine estava tão fraca que tais acontecimentos não produziram nela o efeito que talvez tivessem produzido se se encontrasse no seu estado de saúde habitual.

Efectivamente, tudo se resumiu a algumas ideias vagas, a algumas formas imprecisas, ainda por cima misturadas com ideias estranhas e fantasmas fugazes que se lhe formavam no cérebro doente ou lhe passavam diante dos olhos, e em breve até tudo isso se desvaneceu para só lhe deixar dedicar todas as suas energias às sensações pessoais.

Durante o dia, Valentine mantinha ainda consciência da realidade graças à presença de Noirtier, que se fazia conduzir aos aposentos da neta e lá permanecia, vigiando Valentine com o seu olhar paternal. Depois, quando regressava do Palácio da Justiça, era Villefort quem, por sua vez, passava uma hora ou duas com o pai e a filha.

Às seis horas, Villefort retirava-se para o seu gabinete; às oito chegava o Sr. de Avrigny, que trazia pessoalmente a poção nocturna preparada para a jovem; depois, levavam Noirtier.

Uma enfermeira escolhida pelo médico substituía toda a gente e só se retirava quando, por volta das dez ou onze horas, Valentine adormecia.

Quando descia, entregava pessoalmente as chaves do quarto de Valentine ao Sr. de Villefort, de forma que dali em diante só se podia entrar no quarto da doente atravessando os aposentos da Sr.ª de Villefort e o quarto do pequeno Édouard.

Morrel vinha todas as manhãs aos aposentos de Noirtier saber notícias de Valentine. Mas, coisa extraordinária, parecia de dia para dia menos inquieto.

Em primeiro lugar, apesar de dominada por uma violenta exaltação nervosa, Valentine estava cada vez melhor, depois, não lhe dissera Monte-Cristo, quando correra de cabeça perdida para casa do conde, que se Valentine não morresse dentro de duas horas, estaria salva?

Ora, Valentine ainda estava viva e já se tinham passado quatro dias.

A exaltação nervosa a que nos referimos perseguia Valentine até no sono ou, antes, no estado de sonolência que se sucedia à vigília. Era então que, no silêncio da noite e na semi-obscuridade que deixava reinar a lamparina pousada na chaminé, via passar as sombras que povoam o quarto dos doentes e que estimulam a febre com as suas asas frementes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069