O Conde de Monte Cristo - Cap. 103: Maximilien Pág. 959 / 1080

O médico dos mortos passou a sua certidão na ponta de uma mesa, no próprio quarto de Valentine, e, cumprida essa formalidade suprema, saiu acompanhado pelo doutor.

Villefort, ouviu-os descer e apareceu à porta do seu gabinete.

Agradeceu em poucas palavras ao médico, e, virando-se para Avrigny, disse:

- E agora o padre.

- Tem algum eclesiástico que deseje encarregar mais especialmente de rezar por Valentine? - perguntou Avrigny.

- Não, vá buscar o mais próximo - respondeu Villefort.

- O mais próximo - disse o médico - é um bom abade italiano que reside há pouco tempo na casa contígua a esta. Quer que o previna quando passar?

- Avrigny, peço-lhe o favor de acompanhar este senhor - disse Villefort. - Aqui tem a chave para que possa entrar e sair à vontade. Traga o padre e encarregue-se de o instalar no quarto da minha pobre filha.

- Deseja falar-lhe, meu amigo?

- Desejo estar só. Desculpa-me, não é verdade? Um padre deve compreender todas as dores, mesmo a dor paterna.

E o Sr. de Villefort, depois de dar uma chave-mestra a Avrigny, cumprimentou pela última vez o outro médico e entrou no seu gabinete, onde se pôs a trabalhar.

Para certas pessoas, o trabalho é remédio para todas as dores.

No momento em que os médicos chegavam à rua, viram um homem de sotaina parado no limiar da porta vizinha.

- Cá está o padre de quem lhe falei - disse o médico dos mortos a Avrigny.

Este dirigiu-se ao eclesiástico.

- Senhor, estaria disposto a prestar um grande favor a um pobre pai que acaba de perder a filha, ao Sr. Procurador Régio Villefort?

- Ah, senhor, bem sei que a morte lhe entrou em casa! - respondeu o padre com acentuada pronúncia italiana.

- Então não preciso de lhe dizer que espécie de favor ele ousa esperar do senhor.

- Ia-me oferecer, senhor - disse o padre. - É nossa missão ir ao encontro dos nossos deveres.

- Trata-se de uma jovem.

- Sim, bem sei; soube-o pelos criados que vi fugirem de casa. Sei que se chamava Valentine e já rezei por ela.

- Obrigado, obrigado, senhor - disse Avrigny. - E uma vez que já começou a exercer o seu santo ministério, digne-se continuá-lo. Venha sentar-se junto da morta e toda uma família mergulhada em luto lhe ficará muito reconhecida.

- Vou já, senhor - respondeu o abade e ouso dizer que nunca quaisquer orações serão mais ardentes do que as minhas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069