Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 29: XXIX - Luz! Pág. 162 / 174

XXIX - Luz!

Estão prestes o operador e o ajudante.

Ângela, baldado o esforço que empregou para assistir, afastou-se, pálida e tremula, para o seu oratório.

Joana e Vitorina assistiam para coadjuvar o operador.

O conde treme.

- General! - disse Francisco Costa. - Quem se enrostou com os esquadrões de cavalaria de Chaves imperturbável, não desmaia diante duma lâminazinha de aço.

- Tremo de medo; mas não é medo do golpe. Se depois de me rasgar as névoas, doutor, eu não vejo mais que trevas!...

- Será ver o que ninguém viu, senhor conde. Ver trevas, é vista dupla, que eu não prometo dar a vossa excelência. Basta que veja a luz - replicou jocosamente o operador. - Não obstante, eu encontrei essa imagem em Milton, que tinha a autoridade de cego.

O operador escolheu o método da extração.

Atravessada com o queratótomo a córnea transparente, o humor cristalino, cuja opacidade impedia a impressão de raios visuais, depois de comprimido o globo brandamente, destacou-se, e saiu no gancho de Wenzel.

Terminada a operação, o conde viu a mão do operador, tomou-a nas suas e beijou-a.

- Vi! Meu Deus! Vejo o seu rosto, Sr. Costa - exclamou Simão de Noronha. - Aqui estão duas senhoras, não estão?...

- É minha irmã e Vitorina.

- E sua senhora?

- Está preparando compressas.

- Eu queria vê-la...

- Noutra ocasião. Vamos já colocar os apósitos.

- Já?! Mais quantos dias cego!

- Quarenta e oito horas em que vossa excelência, pensando nos cegos irremediáveis, cuidará que as horas são instantes.

Conduzido para o leito o operado, em quarto quase de todo escuro, assentaram-lhe chumaços molhados sobre os olhos cingidos de ligaduras.

Terminado o curativo, Ângela voltou, apertou a mão do pai, e disse estremecidamente:

- Parabéns para vossa excelência e para nós, senhor conde!

- Não tive a fortuna de vê-la, Sr.





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