XXI - Morre Hermenegildo Esta é de cabo de esquadra! - dizia ele, horas depois, aos amigos que o confortavam. - E quem deu direito a minha mulher de emprestar sem minha ordem 1.650$000 réis ao irmão da costureira? Que me importa a mim que ele fosse boa pessoa ou que fosse um pandilha sem beira nem leira?
- Você tem razão - dizia-lhe um primo carnal de Atanásio. - Lá pr’ó caso de sua mulher andar mal, andou; e, se era honrada, não o parecia. Por exemplo: eu vou em casa da mulher dum sujeito, e peço-lhe dinheiro. Ela mo empresta, e se esconde do marido; que hei de dizer eu? Sim, tem razão você de não dar a orelha, Sr. Fialho.
Estas cláusulas pareceram irrespondíveis ao doente. E, de feito, a natureza tinha esclarecido esta família dos Atanásios com grandes lumes de razão natural.
Por feição que Hermenegildo ratificou não só os seus anteriores juízos sobre os irregulares costumes de Ângela, mas também entrou-se da desconfiança de ter apanhado, quando menos o esperava, o amante dela. Quer-nos parecer que aquela perversíssima alma raciocinasse atuada por influências de fígado e outras entranhas que principiavam a ingurgitar-se.
O restante do dia passou-o pouco febril, e por isso mesmo com certa energia de espírito que destampava em esfuziadas de protérvias contra a esposa, sem ressalvar a probidade do cirurgião.
De noite exasperaram-se-lhe as dores hepáticas, as aflições do estômago, a dispneia, e o queimar de febre. Ao romper do dia, pediu a brados que lhe chamassem o doutor Costa.
Informou-se Francisco com o portador sobre o estado do doente, e despediu-o.
Daí a pouco, outro notável médico enviado por Francisco Costa, desculpando o colega, oferecia os seus serviços.
A doença progrediu sem intermitências de repouso nos cinco dias seguintes.