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Capítulo 8: VIII - Revelações tristes

Página 36
VIII - Revelações tristes

Àquela hora alta da noite, Ângela, ajoelhada diante do santuário, pedia à Virgem que lhe inspirasse o melhor meio de cumprir os seus deveres na apertada situação em que se via.

O ar inocente desta mulher, que se ajoelha como infeliz sem culpa, deve tocar o ânimo de quem vai lendo isto, e já desde o começo do livro pende a desconfiar da virtude da esposa do brasileiro. É, pois, tempo de antepararmos da involuntária aleivosia a mulher pura.

Na margem direita do Lima, ergue-se por entre árvores seculares o antiquíssimo paço de Gondar, cujo décimo-oitavo senhor, no tempo da invasão francesa, era Simão de Noronha Barbosa, capitão de cavalaria, gentil e valente, em anos florentíssimos.

Ainda não tinha dezasseis quando amou a filha de um seu caseiro, com quem queria casar-se. Os parentes e o tutor debalde lhe antepuseram os estorvos da lei e ainda ordens expressas da regência. A mulher humilde chegou a ser-lhe arrebatada e presa; mas a passagem da onda revolucionária socavou às portas ferradas da cadeia de Ponte do Lima, e remessou-lhe aos braços a formosa encarcerada. Certo general de Napoleão mandou a um vigário que os casasse em sua presença e galardoou assim a devoção, talvez forçada, de capitão português ao leão de Austerlitz.

Simão de Noronha foi ferido mortalmente no recontro de Amarante. A esposa, que o acompanhava, quando o viu acutilado e moribundo entre as garras dos patriotas, que cevavam suas iras mais encarniçadamente nos jacobinos, morreu de puro terror, sufocada por um golfo de sangue. Era uma fidalga alma a daquela filha do povo!

A piedade dalguns populares salvou o capitão de ser arrastado nas ruas de Amarante.

Após seis meses de curativo, recolheu-se ao seu paço de Gondar, e levou consigo o esqueleto mal escarnado de sua mulher.

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pág. 36 (Capítulo 8)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174