IX - Amores fatais Amava um que se habituara a contemplá-la como o espírito devoto contempla uma escultura da Virgem Maria, e com respeitoso temor imagina que os olhos da imagem fixos nos seus tem raios de luz viva e transluzem amor e misericórdia do coração divino.
Era um estudante que se habilitava para cursar a escola médico-cirúrgica do Porto. Era cunhado do merceeiro que provia a casa de D. Beatriz. Era irmão da mulher que costurava os vestidos das fidalgas, e ensinara a bordar D. Ângela. Chamava-se, curta e plebeiamente, Francisco José da Costa, e sabia que seu avô paterno tinha sido carpinteiro, e seu avô materno cozinheiro de um iate.
Ora um homem assim “mal-nascido” alguma jóia devia trazer preciosa dos inexauríveis tesouros de Deus.
Se nos ele sair bom e honrado coração, desculparemos a baixeza de instintos com que nos alvorece Ângela no seu primeiro amor.
A inocente não se escondia de D. Beatriz. Ensina a experiência que a candura e a indiscrição andam muito íntimas. A inocência ombreia com a inépcia. Não pode uma menina amar inocentemente senão as suas bonecas. Amores doutra espécie, desajudados de esperteza e finura, desfecham em escândalo ou sandice.
D. Beatriz, devotíssima de S. José, que carpintejava, e de S. Pedro, que pescava, e de S. Marcos, que mesinhava enfermos, e de S. Lucas, que pintava, e de S. Mateus, cobrador de impostos, e de S. Cassiano, mestre-escola, e de S. Teodoro, taverneiro - cristã a extremos de lavar os pés aos pobres em quinta-feira santa, - tranziu-se de horror frio quando teve a denúncia de que sua sobrinha amava o irmão de Joana Costa. A denúncia vinha justificada com uma carta dele, significativa de não ser a primeira, nem talvez a décima; porque o tratamento dado a uma filha de Simão de Noronha e de D.