XIII – Desamparo O Capelão obteve de galope as licenças necessárias para a clausura de Ângela.
D. Beatriz recusou ver a sobrinha, que lhe mandou pedir licença para despedir-se. Vitorina acompanhou-a.
Quando entraram no convento, já lá corria a notícia da fuga. Soror Cassilda de Noronha, irmã do general, estava prevenida por sua irmã. Recebeu glacialmente a sobrinha a quem aborrecia: era ódio reflexo de D. Maria d’Antas, causa indireta da sua forçada reclusão. Fora o caso que Simão de Noronha, resolvido a concubinar-se com a prima, removeu o estorvo da irmã, induzindo-a ou constrangendo-a a professar, já quando não podia consagrar ao divino esposo a virgindade do coração. Sem impedimento da mortalha, Soror Cassilda desforrou-se, bem que não saísse da classe, e da sua ordem, honra lhe seja; que os seus amados tinham sido todos frades beneditinos. Sem embargo, o ódio inveterado a Maria d’Antas foi semente maldita, que bracejou árvore, onde as aves infernais fizeram ninho. Cumpria à desditosa filha da pecadora tragar-lhe os frutos.
Para dobro de desgraça, o general foi avisado da fuga. A resposta do selvagem foi simples: “Não tenho filha”. Queria dizer: essa mulher que se sustente com o seu trabalho, ou sustente-a a caridade pública.
E, portanto, Ângela não tinha mesada. Cassilda dizia às suas criadas: “Dêem-lhe alguma coisa, se quiserem”. E Vitorina, que tinha cordões e arrecadas, vendeu o seu oiro, alegrando-se de ver transformado no pão de sua ama.
Foi terminantemente proibido à porteira entregar carta à recolhida, sem prévio exame da abadessa; a mesma condição estipulada para carta ida do convento.
Três dias depois, José Maria, o merceeiro cujos haveres não chegavam a pagar o débito de um conto de réis a D. Beatriz, foi intimado para pagar ou nomear bens à penhora.