III - Retratos do natural Os amigos do Sr. Fialho, àquela hora, estavam em grupo na calçada dos Clérigos, à porta do imaculado capitalista.
Hermenegildo chamou-os à sala do primeiro andar daquele prestante amigo dos brasileiros, e falou deste teor:
- Meus amigos velhos! Srs. Atanásio José da Silva, Pantaleão Mendes Guimarães e Joaquim António Bernardo!...
Interrompa-se a apóstrofe, e desenhemos as proeminências morais características destes sujeitos invocados a conferir e alvidrar num pleito de honra.
O Sr. Atanásio tem quarenta e oito anos, é capitalista, casado, sócio que foi de molhados com o Sr. Fialho, bom vizinho, cidadão pacífico, e aos costumes disse nada. Porém, o povo reza que ele, apanhando em flagrante a esposa numa excursão filarmónica às esferas sonorosas com um caixeiro, tão duro e miúdo tocara o compasso no caixeiro com a batuta de uma tranca, que o rapaz expulso a coices chegou à terra natal e expirou oito dias depois, contando o segredo a sua família.
A esposa de Atanásio, depois de encerrar-se quinze dias no seu quarto, viu abrir-se a porta à força, fez o ato de contrição para morrer cristãmente, e ia expirar de pavor, quando o marido lhe abriu os braços e disse: “Estás perdoada; mas, se fazes outra, escavaco-te”. Desde então o porte desta senhora reduz as Fúlvias e Marcelas a condições indignas dos gabos históricos. Pecadora que passe por ela é visão que a enjoa e adoenta. As filhas, quando a escutam discretar em virtudes, cuidam que sua mãe é uma mulher da Bíblia.
Quanto a probidade mercantil, Atanásio José da Silva é contrabandista, e, algum tempo, ia mensalmente à estalagem da Ponta-da-Pedra, em três carruagens de recreio, com sua família e as famílias dos dois amigos presentes, receber cortes de seda, cambraias, rendas e pelames ingleses.