XXVII - Vem rompendo a luz Francisco José da Costa foi chamado urgentemente para visitar um senhor conde hospedado em Monte Alegre.
- Conde de quê? - perguntou Ângela, curiosa de saber que titular subia as montanhas de Barroso em busca de seu marido.
- Conde de Gondar - disse o enviado.
- De Gondar? - observou Ângela ao marido. - Cuidei que só havia o Paço de Gondar de meu pai!
Ora, Francisco não lia gazetas, nem sabia que o general Noronha passasse a titular. Não ponderou por isso a observação da esposa, nem inquiriu a procedência do conde.
Chegou à casa nobre de Monte Alegre.
Levaram-no à presença dum ancião cego, de aspecto cadavérico e tocantemente amargurado.
Costa examinou-o em breve espaço, e perguntou:
- Senhor conde, há que tempo começou o seu padecimento de olhos?
- Há nove anos. Estava eu em Paris a tratar-me de nevralgias de cabeça.
- E quando cegou completamente?
- Há dois anos, tendo voltado a Paris para consultar de novo os especialistas.
- Disseram a vossa excelência que era catarata negra a cegueira?
- Juntamente; mas era intempestiva a operação. Depois, cá em Portugal, dois facultativos que consultei não votaram pela operação: um deles pendia a crer que a minha cegueira fosse paralisia.
- É catarata negra - disse Francisco Costa.
- Pode operar-se? - perguntou o conde, agitado.
- Pode, senhor conde.
- Vossa senhoria tem esperanças?
- As que pode ter-se em operatória.
- E espera dar-me vista?
- Espero, creio que vossa excelência verá.
- Feliz hora em que este amigo que está a meu lado me levou a Ponte do Lima a notícia de vossa senhoria! - exclamou o conde.
- O senhor conde de Gondar - disse o cavaleiro de Chaves ao operador - é o bem conhecido general Simão de Noronha.