Um Caso Tenebroso - Cap. 2: II – PROJECTO DE UM CRIME Pág. 24 / 249

- A Maria na encontra-se no campo com a vaca, e o Gaucher...

- Onde está o Gaucher? - inquiriu ele.

- Não sei.

- Tenho cá as minhas desconfianças desse maroto; vai ao sótão, espiolha tudo, e procura-o bem no pavilhão.

Marta saiu e fez o que o marido lhe recomendara. Quando voltou encontrou este de joelhos, a rezar.

- Que tens tu? - perguntou ela, assustada. O administrador deitou as mãos à cinta da mulher, puxou-a para si, beijou-a na testa e respondeu-lhe, em voz comovida:

- Se nos não tornarmos a ver, quero que fiques sabendo, minha pobre mulher, que eu gostava muito de ti. Segue, ponto por ponto, as instruções escritas numa carta enterrada ao pé do larício daquele maciço - disse ele, após uma pausa, apontando-lhe para uma árvore -; está metida num canudo de lata. Não lhe toques senão depois da minha morte. Enfim, aconteça o que acontecer, fica certa, apesar da injustiça dos homens, que o meu braço esteve ao serviço da justiça de Deus.

Marta, que ia cada vez empalidecendo mais, ficara branca como uma mortalha; fitou o marido com uns olhos fixos, que o pavor faziam maiores; queria falar, mas tinha securas na garganta. Michu desapareceu como uma sombra; amarrara aos pés da cama Couraut, que se pôs a uivar como uivam os cães danados.





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