XXII-DISSIPAM-SE AS TREVASO falecido marquês de Cinq-Cygne empregara as suas economias, bem como as de seu pai e de sua mãe, na aquisição de um magnífico palacete na Rua do Faubourg-du-Roule, compreendido no morgadio considerável instituído para a manutenção do seu pariato. A sórdida economia: do marquês e dos pais, que tantas vezes afligiria Laurence, foi então explicada. Eis, porque, depois desta aquisição, a marquesa, que vivia nas suas terras entesourando para os filhos, com tanto maior gosto se habituou a passar os invernos em Paris quanto era certo que sua filha Berta e seu filho Paulo chegavam à idade em que a educação de ambos exigia os recursos da capital. A Senhora de Cinq-Cygne frequentou pouco a sociedade. O marido não podia ignorar as saudades que viviam no coração daquela mulher; mas, por ela, usou das mais engenhosas delicadezas, e morreu sem ter amado outra mulher na vida. Aquele nobre coração, desconhecido durante algum tempo, mas a quem a generosa filha dos Cinq-Cygne tributou, nos últimos anos tanto amor quanto o que recebia, esse marido foi, por fim, completamente feliz. Laurence vivia sobretudo para as alegrias da família. Nenhuma mulher de Paris foi mais querida de seus amigos, nem mais respeitada. Frequentar a sua casa era uma honra. Meiga, indulgente, espiritual, simples, sobretudo, agradava às almas de escol, atraía, apesar da sua atitude repassada de sofrimento; mas todos pareciam proteger mulher tão forte, e esse sentimento de protecção secreta explica talvez a sedução da sua amizade. Havendo tido uma vida tão dolorosa durante a juventude, é bela e serena no fim da vida. Todos sabem dos seus sofrimentos. Nunca ninguém perguntou quem era o original do retrato de Roberto Lefebvre que, desde a morte do guarda, é o principal e fúnebre orna mento do seu salão.