VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO No momento em que Marta, advertida da iminência do perigo, deslizava, com a rapidez de uma sombra, em direcção à brecha indicada por Michu, o salão do castelo de Cinq-Cygne apresentava o mais tranquilo dos espectáculos. Tão longe estavam os seus habitantes de suspeitar a tempestade pronta a cair sobre eles, que a sua atitude despertaria a compaixão de qualquer pessoa posta a par dos acontecimentos.
No alto fogão de sala, ornado de um tremó em que dançavam, por cima do espelho, pastoras de anquinhas, ardia uma dessas fogueiras como só se encontram nos castelos situados na orla das florestas. Ao canto desse fogão, numa grande poltrona quadrada, de madeira doirada, guarnecida de uma magnífico tecido de verde adamascado, estava a jovem condessa, numa atitude de certo modo prostrada, a prostração que provoca um abatimento completo. Tendo regressado, pelas 6 horas, apenas dos confins de Brie, depois de bater a estrada, na vanguarda do grupo, para que os quatro gentis-homens chegassem em segurança ao abrigo onde deviam completar a sua última tirada antes de atingirem Paris, viera encontrar à mesa, no fim do jantar, o Senhor e a Senhora de Hauteserre. Cheia de fome, sentara-se, sem despir sequer a sua amazona coberta de lama e descalçar os borzeguins. Em vez de se despir logo depois do jantar, prostrada por todas aquelas fadigas, deixara descair a bela cabeça, cheia de caracóis loiros, para o espaldar da imensa poltrona, e estendera os pés em cima de um tamborete. O fogo ia secando os salpicos de lama da amazona e dos borzeguins. As luvas, de pele de gamo, o chapeuzinho de castor, o véu verde e o pingalim ainda ali estavam em cima da console para onde ela os atirara.