VIII-UM RECANTO DA FLORESTA Uma brecha tem sempre a sua causa e a sua utilidade. Eis como e porquê fora praticada aquela que se encontra entre a torre, hoje conhecida por da Menina, e as cavalariças.
Desde a sua instalação em Cinq-Cygne o bom do Senhor de Hauteserre fez, de uma longa ravina, por onde as águas da floresta caíam no fosso, um caminho que divide duas grandes toalhas de terra pertencentes à reserva do castelo, no único propósito de aí plantar uma centena de nogueiras que encontrara num viveiro.
Em onze anos essas nogueiras tinham-se feito bastante frondosas e cobriam quase o caminho ladeado já por taludes de seis pés de altura, e através do qual se penetrava numa pequena mata, dos seus trinta arpentos, recentemente adquirida. Uma vez o castelo ocupado de novo, os seus habitantes passaram a preferir atravessar o fosso, para tomarem o caminho comunal que serpenteava ao longo dos muros do parque e levava à quinta, a dar a volta pelo portão. Sem querer, à medida que faziam trânsito por ali, iam os transeuntes alargando a brecha dos dois lados com tanto menor escrúpulo quanto é certo que no século XIX os fossos são inúteis e que inclusivamente o tutor de Laurence muitas vezes falava em tirar partido daquele.
Esta constante demolição produzia terra, saibro e cascalho, detritos que acabaram por encher o fundo do fosso. A água, dominada por essa espécie de calçada, só a cobria nas épocas de grandes chuvas. No entanto, apesar das suas degradações, para que contribuía toda a gente do castelo, inclusivamente a própria condessa, a brecha, era suficientemente escarpada para não ser fácil fazer passar por ela um cavalo e sobretudo levá-lo a entrar por aí no caminho comunal; mas, ao que parece, nas horas de perigo, os cavalos desposam o pensamento dos cavaleiros.