XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR Os recursos dos Senhores de Simeuse, de Hauteserre e de Michu foram os primeiros processos que o tribunal de apelação teve de apreciar. A sentença foi, portanto, felizmente retardada pelas cerimónias da instalação do referido tribunal.
Pelos fins de Setembro, após três audiências em que foram ouvidas as alegações da defesa e o discurso do procurador geral Merlin, que pessoalmente usou da palavra, o recurso foi rejeitado. O tribunal imperial de Paris fora instituído, o Senhor de Granville havia sido nomeado substituto do procurador geral nesse tribunal, e como o departamento de Aube se encontrava na jurisdição dele, foi-lhe possível fazer algumas démarches, no seio do seu ministério, a favor dos condenados; assediou Cambacérês, seu protector; Bordin e o Senhor de Chargeboeuf apresentaram-se no dia seguinte ao da rejeição do recurso, na sua residência do Marais, onde o foram encontrar em plena lua-de-mel, pois se casara entretanto: Apesar de todas as coisas que tinham acontecido na vida do seu antigo advogado, o Senhor de Chargeboeuf viu bem, na aflição do jovem substituto, que ele se mantinha fiel aos seus clientes. Certos advogados, verdadeiros artistas da profissão, fazem das suas causas amantes. O caso é raro; não confiem nisso. Logo que os seus antigos clientes se encontraram sozinhos com ele no gabinete, o Senhor de Granville disse ao marquês:
- Não estive à espera da vossa visita; já fiz uso de todo o meu crédito. Não procureis salvar Michu; assim não conseguireis o perdão dos Senhores de Simeuse. Tem de haver uma vítima.
- Meu Deus! - exclamou Bordin, mostrando ao jovem magistrado os três recursos de indulto -; poderei eu tomar a responsabilidade de suprimir o apelo do vosso cliente? Queimar este papel é cortar-lhe a cabeça.