XI - DESFORRA DA POLÍCIA O caminho mais curto de Cinq-Cygne ao pavilhão de Michu era o que da aldeia levava à quinta de Bellache, e desembocava na rotunda onde na véspera os espiões tinham aparecido a Michu. Eis porque o gendarme que levava Corentin seguiu essa estrada, a mesma que o brigadeiro de Arcis tomara antes. Ao longo do caminho, o agente procurava inteirar-se da forma como o brigadeiro pudera ser arrancado da sela. Lastimava de si para consigo ter enviado apenas um homem a um ponto tão importante, e deste erro extraía um axioma para um código de polícia que elaborava para uso próprio.
«Se eles se viram livres do gendarme - pensava Corentin - também são capazes de se ter visto livres de Violette. Os cinco cavalos esfalfados trouxeram, evidentemente, das imediações de Paris, para a floresta, os quatro conspiradores e Michu.» - Michu tem algum cavalo? - perguntou ao gendarme, que pertencia à brigada de Arcis.
- Tem, sim, senhor, e um belo potro - replicou o gendarme -, um cavalo de caça das caudelarias do ex-marquês de Simeuse. Embora tenha já os seus quinze anos, parece ainda melhor:
Michu é capaz de o fazer cavalgar vinte léguas, e o animal fica com o pêlo seco como um chapéu. Oh! E como ele o trata! Bom dinheiro tem recusado pelo bicho.
- Como é ele, o cavalo de Michu?
- Tem pêlo castanho-escuro, malhas brancas por cima das patas, é magro, só nervos, parece um árabe.
- Já viste cavalos árabes?
- Voltei do Egipto há coisa de um ano, e montei cavalos de mamelucos. Já tenho onze anos de serviço na cavalaria: estive no Reno com o general Steingel, dali fui para a Itália, e acompanhei o Primeiro Cônsul ao Egipto. Por isso vou ser promovido a brigadeiro.
- Quando eu estiver no pavilhão de Michu vai à cavalariça, e, se vives há onze anos no meio de cavalos, não podes deixar de saber reconhecer quando um cavalo fez uma longa caminhada.