VII - A VISITA DOMICILIARIA O homem das belas tradições da antiga polícia e Corentin, essa fénix dos espiões cumpriam uma missão secreta. Malin não se enganava atribuindo um duplo papel àqueles dois artistas em farsas trágicas; por isso, talvez, antes de os vermos em acção, convenha que mostremos a cabeça de quem eles eram os braços. Bonaparte, ao tornar-se Primeiro-Cônsul, encontrou Fouché à frente da polícia geral. A Revolução criara francamente e com razão um ministério especial da polícia.
Mas, no seu regresso de Marengo, Bonaparte fundava a prefeitura de polícia, colocava Dubois à sua frente e chamava Fouché para o conselho de Estado, dando-lhe como sucessor no ministério da polícia o convencional Cochon, mais tarde conde de Lapparent. Fouché, que considerava o ministério da polícia o mais importante num governo de vistas largas, de política definida, interpretou como um desaire ou pelo menos como uma prova de desconfiança essa modificação. Reconhecendo, porém, no caso da máquina infernal e da conspiração de que aqui se trata, a superioridade desse grande homem de Estado, Napoleão voltou a dar-lhe o ministério da polícia. Depois, mais tarde, assustado com os talentos que Fouché desenvolvera durante a sua ausência, aquando do caso de Walcheren, o imperador deu esse ministério ao duque de Rovigo, e mandou o duque de Otranto governar as províncias ilírias, verdadeiro exílio.
Esse gênio singular, que provocou em Napoleão uma espécie de terror, não se manifestou subitamente em Fouché. Este obscuro convencional, um dos homens mais extraordinários e mais injustamente julgados daquele tempo, formou-se no meio da tormenta. Durante 0 Directório elevou-se àquela altitude de onde os homens profundos sabem ver o futuro julgando o passado; depois, repentinamente, como certos autores medíocres que se revelam excelentes bafejados por uma inspiração súbita, deu provas de grande argúcia durante a rápida revolução de 18 de Brumário.