Ora o Senhor de Talleyrand encontrava-se desde o princípio da noite no palácio de Luynes, e sabia, sem dúvida nenhuma, que Bonaparte estava impossibilitado de conceder o indulto.
- Mas - disse Rastignac a De Marsay -- continuo a não ver que relação tem a Senhora de Cinq-Cygne com tudo isto.
- Ah! o senhor era tão novo, meu caro, que me esquecia da conclusão. Ouviu falar, por certo, no caso do rapto do conde de Gondreville, causa da morte dos dois Simeuse e do irmão mais velho dos Hauteserre, .que, pelo seu casamento com a Menina de Cinq-Cygne, se tomou conde e depois marquês de Cinq-Cygne...
De Marsay, solicitado por várias pessoas que desconheciam este caso, descreveu o processo, dizendo que os cinco desconhecidos eram uns tratantes da polícia geral do Império, encarregados de fazer desaparecer os maços de impressos que o conde de Gondreville viera precisamente queimar quando se convenceu de que o Império estava consolidado.
- Desconfio que Fouché - disse ele - mandou ao mesmo tempo procurar provas da correspondência de Gondreville com Luís XVIII, personagem com quem ele sempre se entendeu, até mesmo durante o Terror. Mas neste pavoroso caso houve paixão da parte do agente principal, ainda hoje vivo, um desses grandes homens subalternos sempre insubstituíveis, e que se tomou célebre com certas espantosas provas de força. Ao que parece a Menina de Cinq-Cygne maltratara-o quando ele viera prender os Simeuse.
Aqui tem, minha senhora, o segredo do caso; está nas suas mãos explicá-lo à marquesa de Cinq-Cygne, e fazer-lhe compreender porque Luís XVIII se calou.
Paris, Janeiro de 1841.
FIM