IV - FORA A MÁSCARA! Pouco depois regressava Michu a casa, pálido, o rosto contraído.
- Que tens tu? - interrogou-o a mulher, assustada.
- Nada - retorquiu-lhe ele ao ver Violette, cuja presença foi para ele como que um corisco.
Michu pegou numa cadeira, sentou-se diante da lareira e atirou ao lume uma carta que retirou de um desses canudos de lata em que os soldados costumam guardar os papéis. Este seu gesto, que permitiu que Marta respirasse, como uma pessoa a quem acabam de arrancar um grande peso de cima do peito, intrigou muito Violette. O administrador poisou a carabina no pano da chaminé com um admirável sangue-frio. Mariana e Marta fiavam à luz de uma candeia,
- Vamos, Francisco - disse o pai -, são horas de cama... Fazes favor de te deitar!
Pegou brutalmente no filho a meio corpo e arrastou-o consigo.
- Vai ao subterrâneo - disse-lhe ao ouvido- mal chegues à escada, enche duas garrafas de vinho de Mâcon, depois de despejares um terço do líquido, com a aguardente de Cognac que está em cima da garrafeira; em seguida, junta a uma garrafa de vinho branco metade de aguardente. Faz tudo isso como deve ser e põe as três garrafas em cima do barril vazio, à entrada da adega. Quando me vieres abrir a janela sai do subterrâneo, sela o meu cavalo, salta-lhe para cima e espera-me no Poteau-des-Gueux.
- Este maroto nunca quer ir para a cama - disse o administrador, ao voltar à cozinha -; quer imitar as pessoas crescidas: ver tudo, ouvir tudo, saber tudo. Você estraga a minha gente, tio Violette.
- Santo Deus! Santo Deus! - exclamou Violette -; quem é que lhe desatou a língua? Nunca lhe ouvi falar tanto.
- Pois você julga que eu deixo que me espionem sem dar por isso? Você não está do bom lado, tio Violette.