O Conde de Monte Cristo - Cap. 117: O 5 de Outubro Pág. 1071 / 1080

Morrel olhou o conde com espanto.

- Conde, o senhor já não é o mesmo que era em Paris.

- Como assim?

- É verdade. Aqui, o senhor ri.

A fronte de Monte-Cristo nublou-se de súbito.

- Fez bem em me chamar a atenção para isso, Maximilien. Tornara vê-lo foi uma felicidade Para mim e esqueci-me de que toda a felicidade é passageira.

- Oh, não, não, conde! - exclamou Morrel, pegando de novo nas mãos do amigo. - Pelo contrário, ria, seja feliz, e prove-me com a sua despreocupação que a vida só é má para aqueles que sofrem. O senhor é caridoso, é bom, é grande, meu amigo, e é para me dar coragem que simula essa alegria.

- Engana-se, Morrel; de facto, sentia-me feliz.

- Então, foi porque se esqueceu de mim Tanto melhor!

- Como assim?

- Claro! Como dizia o gladiador ao entrar no circo, dirigindo-se ao sublime imperador, também eu lhe digo, meu amigo: «Aquele que vai morrer saúda-te.»

- Não está conformado? - perguntou Monte-Cristo, com um olhar estranho.

- Oh! - exclamou Morrel com um olhar cheio de amargura. - Acreditou realmente que isso fosse possível?

- Ouça - disse o conde. - Compreende bem as minhas palavras, não é verdade, Maximilien? Não me considera um homem vulgar, uma cegarrega que emite sons vagos e vazios de sentido. Quando lhe pergunto se está conformado, falo-lhe como um homem para quem o coração humano já não tem segredos. Pois bem, Morrel, desçamos ambos ao fundo do seu coração e sondemo-lo. Sente ainda essa impaciência ardente e dolorosa que faz saltar o corpo como salta o leão picado pelo mosquito? Continua a experimentar essa sede devoradora que só se extingue na sepultura? Domina-o essa fantasia da saudade que lança o vivo fora da vida em busca da morte? Ou trata-se apenas de prostração, de coragem esgotada, de contrariedade que sufoca o raio de esperança que procura brilhar? Ou da perda da memória que leva à impotência das lágrimas? Oh, meu caro amigo, se é isso, se já não pode chorar, se julga morto o seu coração embotado, se já só tem confiança em Deus, olhares apenas para o céu, então, amigo, ponhamos de parte as palavras, demasiado inexpressivas para o sentido que lhes dá a nossa alma! Maximilien, você está conformado, já não se lamenta.

- Conde - respondeu Morrel, na sua voz suave e firme ao mesmo tempo. - Conde, ouça-me como se ouve um homem que fala de dedo estendido para a terra e olhos erguidos para o céu: vim ter consigo para morrer nos braços de um amigo. Claro que existem pessoas que amo: amo a minha irmã Julie, amo o seu marido, Emmanuel; mas necessito que se me abram braços fortes e que me sorriam nos meus derradeiros instantes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069