O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 168 / 1080

Dantès nem por isso desistiu de alcançar uma dessas ilhas. Mas como encontrá-las no meio da noite que se adensava a cada instante à sua volta?

Nesse momento, viu brilhar como uma estrela o farol de Planier.

Dirigindo-se em linha recta para o farol, deixaria a ilha de Tibouien um pouco à esquerda; derivando portanto um bocadinho para a esquerda, deveria encontrar essa ilha no seu caminho.

Mas, como já dissemos, ia pelo menos uma légua do Castelo de If a Tibouien

Muitas vezes, na prisão, Faria repetia ao rapaz, ao vê-lo abatido e preguiçoso: «Dantès, não se entregue a esse amolecimento. Afogar-se-á se tentar fugir e não tiver os músculos bem treinados.»

Através das ondas pesadas e salgadas estas palavras vieram soar aos ouvidos de Dantès. Apressara-se então a vir à superfície e a fender as vagas para ver se efectivamente não perdera as forças. Verificou com alegria que a sua inacção forçada lhe não roubara nada da sua pujança e da sua agilidade e sentiu que continuava a dominar o elemento onde toda a infância brincara.

De resto o medo, esse rápido perseguidor, duplicava o vigor de Dantès. Inclinado sobre a crista das ondas, escutava se algum rumor lhe chegava aos ouvidos. Todas as vezes que se erguia na extremidade de uma vaga, o seu olhar rápido abarcava o horizonte visível e procurava penetrar na espessa escuridão.

Cada onda um pouco mais alta do que as outras parecia-lhe um barco em sua perseguição, e então redobrava de esforços, que o afastavam sem dúvida, mas cuja repetição rapidamente lhe esgotaria as forças.

Continuava porém a nadar, embora o castelo terrível estivesse já um pouco diluído no vapor nocturno. Porque apesar de o não distinguir, não deixava de o sentir constantemente.

Passou-se uma hora durante a qual Dantès, exaltado pelo sentimento da liberdade que invadira toda a sua pessoa, continuou a fender as vagas na direcção que se marcara.

«Vejamos», dizia para consigo, «há perto de uma hora que nado, mas como o vento me é contrário devo ter perdido um quarto da minha rapidez. No entanto, a menos que me tenha enganado no rumo, já não devo estar longe de Tibouien... Mas se me enganei?»

Um arrepio percorreu todo o corpo do nadador. Tentou deitar-se de prancha para descansar; mas o mar era cada vez mais forte e não tardou a compreender que esse meio de recuperar forças, com o qual contara, era impossível.

«Pronto, seja!», pensou. «Irei até ao fim, até os meus braços se cansarem, até às cãibras me invadirem o corpo, e depois deixar-me-ei ir ao fundo!»

E desatou a nadar com a energia e a velocidade do desespero.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069