O Conde de Monte Cristo - Cap. 23: A ilha de Monte-Cristo Pág. 186 / 1080

Dantès declarou que toda a gente se podia deitar, pois ele encarregava-se do leme.

Quando o maltês (era assim que chamavam a Dantès) fazia semelhante declaração, isso bastava e todos se iam deitar tranquilamente.

Isso acontecia algumas vezes: lançado do isolamento no mundo, Dantès experimentava de vez em quando imperiosas necessidades de estar só. Ora, que isolamento haveria que fosse simultaneamente maior e mais poético do que o de um navio que flutua isolado no mar, durante a escuridão da noite, no silêncio da imensidade e sob o olhar do Senhor?

Desta vez, porém, o isolamento foi povoado pelos seus pensamentos, a noite iluminada pelas suas ilusões e o silêncio animado pelas suas promessas.

Quando o patrão acordou o navio navegava a todo o pano. Não havia um pedacinho de vela que não estivesse enfunado pelovento. Navegava-se a mais de duas léguas e meia por hora.

A ilha de Monte-Cristo crescia no horizonte.

Edmond entregou o navio ao patrão e foi deitar-se por sua vez na sua rede. Mas, apesar de ter passado a noite em claro, não conseguiu pregar olho um só instante. Duas horas mais tarde voltou a subir à coberta. O navio preparava-se para dobrar a ilha de Elba. Encontravam-se por alturas da Mareciana e para lá da ilha plana e verde da Pianosa. Distinguia-se no azul do céu o cume chamejante de Monte-Cristo.

Dantès ordenou ao timoneiro que virasse a bombordo, a fim de deixar a Pianosa à direita. Calculara que tal manobra encurtaria a viagem duas ou três milhas. Por volta das cinco horas da tarde a ilha encontrava-se completamente à vista. Distinguiam-se os mais pequenos pormenores graças à limpidez atmosférica característica da luz emitida pelos raios do Sol no ocaso.

Edmond devorava com os olhos aquela massa de rochedos que passava por todas as cores crepusculares, do rosa-vivo ao azul-escuro. De vez em quando subiam-lhe à cara golfadas de sangue, a testa purpureava-se-lhe e uma nuvem escarlate passava-lhe diante dos olhos. Nunca jogador que tivesse arriscado toda a sua fortuna num lance de dados experimentara as angústias que Edmond sentia nos seus paroxismos de esperança.

Anoiteceu. Às dez horas ancorou-se. A Jeune-Amélie era a primeira a comparecer ao encontro. Apesar do domínio que tinha habitualmente sobre si mesmo, Dantès não se pôde conter: foi o primeiro a saltar para terra e se a tanto se atrevesse tê-la-ia beijado como Bruto.

A noite estava escura; mas às onze horas a Lua ergueu-se do mar e cobriu-lhe de prata cada frémito. Depois os seus raios, à medida que se elevava, começaram a reflectir-se, em brancas cascatas de luz, nos rochedos empilhados daquele outro Pélion.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069