O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 248 / 1080

Escutaram e ouviram-no entrar no seu quarto e fechar a porta por dentro. A Sr.ª Morrel mandou deitar a filha. Em seguida, cerca de meia hora depois de Julie se retirar, levantou-se, descalçou os sapatos e deslizou pelo corredor, a fim de ver através da fechadura o que fazia o marido.

No corredor notou uma sombra que se retirava: era Julie que, também inquieta, precedera a mãe.

A jovem foi ao encontro da Sr.ª Morrel.

- Está a escrever - disse-lhe.

As duas tinham-se adivinhado sem trocar palavra.

A Sr.ª Morrel inclinou-se ao nível da fechadura. Com efeito, Morrel escrevia. Mas o que não notara a filha notou-o a Sr.ª Morrel: o marido escrevia em papel selado.

Assaltou-a a ideia terrível de que fazia o seu testamento. Estremeceu da cabeça aos pés, mas teve a coragem de não dizer nada.

No dia seguinte, o Sr. Morrel parecia absolutamente calmo. Esteve no seu gabinete como de costume, desceu para almoçar como habitualmente e apenas depois do jantar fez sentar a filha junto de si, tomou-lhe a cabeça nos braços e manteve-a assim durante muito tempo apertada ao peito.

À noite, Julie disse à mãe que, embora na aparência calmo, notara que o coração do pai batia violentamente.

Os dois outros dias decorreram de forma mais ou menos idêntica. No dia 4 de Setembro à noite, o Sr. Morrel pediu à filha a chave do seu gabinete.

Julie estremeceu ao ouvir tal pedido, que lhe pareceu sinistro. Por que motivo lhe pediria o pai uma chave que ela sempre tivera e que só lhe tiravam na infância para a castigar?

A jovem fitou o Sr. Morrel.

- Que mal fiz eu, meu pai, para que me tire a chave?

- Nada, minha filha - respondeu o pobre Morrel, a quem esta pergunta tão simples da filha fez brotar as lágrimas dos olhos. - Nada, apenas necessito dela.

Julie simulou procurar a chave.

- Devo tê-la deixado no meu quarto.

E saiu. Mas em vez de ir ao quarto, desceu e correu a consultar Emmanuel.

- Não entregue a chave ao seu pai - disse-lhe Emmanuel – e amanhã de manhã, se for possível, não o deixe.

Ela procurou interrogar o rapaz, mas ou este não sabia mais nada ou não queria dizer outra coisa.

Durante toda a noite de 4 para 5 de Setembro a Sr.ª Morrel esteve de ouvido colado à parede. Até às três da madrugada ouviu o marido passear agitadamente no quarto.

Só às três horas se atirou para cima da cama.

As duas mulheres passaram a noite juntas. Desde a véspera à noite que esperavam Maximilien. Às oito horas, o Sr. Morrel entrou no quarto da mulher e da filha. Estava calmo, mas a agitação da noite transparecia-lhe no rosto pálido e desfeito.

As duas mulheres não ousaram perguntar-lhe se dormira bem. Morrel foi melhor para a mulher e mais paternal com a filha do que em qualquer outra ocasião. Não se cansava de olhar e beijar a pobre criança.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069