O Conde de Monte Cristo - Cap. 4: A Conspiração Pág. 27 / 1080

- Por isso - disse Danglars, colocando-a fora do alcance da mão de Caderousse -, por isso, o que digo e o que faço não passa de uma brincadeira, e seria o primeiro a lamentar se acontecesse alguma coisa a esse bom Dantès! Assim, olha...

Pegou na carta, amarrotou-a nas mãos e atirou-a para um canto da latada.

- Agora estamos de acordo - disse Caderousse. - Dantès é meu amigo e não quero que lhe façam mal.

- E quem diabo pensa fazer-lhe mal? Nem eu nem Fernand! - redarguiu Danglars, levantando-se e olhando para o rapaz, que ficara sentado, mas cujos olhos devoravam de soslaio o papel denunciador caído a um canto.

- Nesse caso - acrescentou Caderousse -, que nos deem vinho. Quero beber à saúde de Edmond e da bela Mercédès.

- Já bebeste de mais, bêbedo - volveu-lhe Danglars -, e se continuas a beber assim terás de dormir aqui, pois não te aguentarás nas pernas.

- Quem, eu? - replicou Caderousse, levantando-se com a fatuidade dos bêbedos. - Eu não me aguentar nas pernas! Aposto que sou capaz de subir ao campanário de Accoules e sem cambalear!

- Está bem, aposto, mas amanhã? - acedeu Danglars. - Hoje são horas de voltar para casa; dá-me o braço e vamos.

- Vamos - concordou Caderousse -, mas não preciso do teu braço para nada.

- Vens, Fernand? Vens connosco até Marselha?

- Não, regresso aos Catalães - respondeu Fernand.

- Fazes mal. Vem connosco até Marselha, anda.

- Não tenho nada que fazer em Marselha e nem me apetece lá ir.

- Como tu dizes isso! Não te apetece, hem! Pobre rapaz? Pronto, faz o que quiseres! Liberdade para toda a gente! Anda, Danglars, e deixemos o cavalheiro regressar aos Catalães, visto não lhe apetecer...

Danglars aproveitou aquele momento de boa vontade de Caderousse para se arrastar na direção de Marselha.

Simplesmente, para proporcionar a Fernand um caminho mais curto e mais fácil, em vez de voltar pelo Cais da Rive- Neuve, regressou pela Porta de Saint- Victor. Caderousse seguiu-o, cambaleando, agarrado ao seu braço.

Depois de dar uma vintena de passos, Danglars virou-se e viu Fernand precipitar-se para o papel, que meteu na algibeira.

Em seguida, correu imediatamente para fora da latada e dirigiu-se para o lado do Pillon.

- Aonde é que ele vai? - perguntou Caderousse.

- Mentiu-nos, disse que ia para os Catalães e vai para a cidade! Eli, Fernand, vais enganado, meu rapaz!

- Tu é que não vês bem - observou Danglars. - Vai direitinho pelo caminho das Vieilles-infirmeries.

- É verdade - admitiu Caderousse. - Pois olha que juraria que o vi virar à direita. Decididamente, o vinho é um traidor.

- Vamos, vamos - murmurou Danglars. - Agora creio que as coisas estão bem encaminhadas e que basta deixá-las seguir sozinhas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069