O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 275 / 1080

Eram peles de leões do Atlas, de juba abundante; peles de tigres de Bengala, de listras vivas; peles de panterado Cabo, caprichosamente mosqueadas, como a daquela que apareceu a Dante, e finalmente peles de ursos da Sibéria, de raposas da Noruega, etc., e todas essas peles se encontravam lançadas em profusão umas sobre as outras, de forma que se julgaria caminhar sobre a relva mais espessa e dormir na cama mais macia.

Ambos se deitaram no divã. Chibuques de tubos de jasmim e pipos de âmbar estavam ao alcance da mão, todos preparados de forma a não ser necessário fumar duas vezes pelo mesmo. Pegou cada um no seu, Ali acendeu-os e saiu para ir buscar o café.

Houve um momento de silêncio durante o qual Simhad se entregou aos pensamentos que pareciam dominá-lo constantemente, mesmo no meio de um diálogo e Franz abandonou-se a esse devaneio mudo em que caímos quase sempre ao fumar excelente tabaco, o qual parece levar com o fumo todas as penas do espírito e proporcionar em troca ao fumador todos os sonhos da alma.

Ali trouxe o café

- Como o toma? - perguntou o desconhecido. - à francesa ou à turca, forte ou fraco, doce ou amargo, coado ou fervido? É à sua escolha; está preparado de todas as formas.

- Vou tomá-lo à turca - respondeu Franz.

- E tem razão! - exclamou Simbad. - Isso prova que tem disposição para a vida oriental. Ah, os Orientais são os únicos homens que sabem viver! Quanto a mim - acrescentou com um dos seus sorrisos singulares que não escapavam ao jovem -, assim que concluir os meus negócios em Paris irei morrer no Oriente. Então, se me quiser encontrar, terá de me ir procurar ao Cairo, a Bagdade ou a Ispahan.

- Garanto-lhe que será a coisa mais fácil do mundo – redarguiu Franz -, pois creio que me estão a nascer asas de águia, e com tais asas darei a volta ao mundo em vinte e quatro horas.

- Ah, ah, efeitos do haxixe! ... Pois bem, abra as suas asas e voe para as regiões sobre-humanas. Nada receie, pois há quem vele por si. E se, como as de Ícaro, as suas asas se derreterem ao sol, cá estaremos para o receber.

Então, disse algumas palavras em árabe a Ali, que fez um gesto de obediência e se retirou, mas sem se afastar.

Quanto a Franz, operava-se nele uma estranha transformação.

Toda a fadiga física do dia, toda a preocupação de espírito ocasionada pelos acontecimentos da noite, desapareciam como no primeiro momento de repouso em que estamos ainda suficientemente conscientes para sentir aproximar-se o sono. O seu corpo parecia adquirir uma leveza imaterial, o seu espírito esclarecia-se de maneira inaudita e as faculdades dos seus sentidos pareciam duplicar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069