O Conde de Monte Cristo - Cap. 34: Aparição Pág. 319 / 1080

O pano subiu para o bailado. Era um desses bons corpos de dança italianos, ensaiados e encenados pelo famoso Henri, que como coreógrafo conquistara em Itália fama colossal, que infelizmente para ele acabara por perder no teatro náutico; um desses corpos de baile onde toda a gente, desde a primeira figura até ao último comparsa, toma parte tão activa na acção que cento e cinquenta pessoas fazem ao mesmo tempo o mesmo gesto e levantam simultaneamente o mesmo braço ou a mesma perna.

O bailado chamava-se Poliska.

Franz estava demasiado interessado na sua bela grega para ligar importância ao bailado, por mais interessante que fosse. Quanto a ela, encontrava visível prazer no espectáculo, prazer que contrastava profundamente com o desinteresse absoluto daquele que a acompanhava e que, enquanto durou a obra-prima coreográfica, não fez um gesto, parecendo, apesar do barulho infernal das trombetas, dos címbalos e das campainhas da orquestra, saborear as doçuras celestes de um sono calmo e radioso.

Por fim o bailado terminou e o pano desceu no meio dos aplausos frenéticos de uma plateia inebriada. Graças ao hábito de dividir a ópera com um bailado, os intervalos são curtíssimos em Itália. Os cantores têm tempo para descansar e mudar de traje enquanto os bailarinos executam as suas piruetas e saltos de dança.

Começou a abertura do segundo acto. Aos primeiros acordes de violino, Franz viu o dorminhoco levantar-se lentamente e aproximar-se da grega, que se virou para lhe dirigir algumas palavras e se encostou de novo à balaustrada do camarote. A cara do seu interlocutor continuava na sombra e Franz não podia distinguir nenhuma das suas feições.

O pano subiu. A atenção de Franz foi inevitavelmente atraída para os actores e os seus olhos afastaram-se por um instante do camarote da bela grega e dirigiram-se para o palco.

O acto principia, como se sabe, pelo duo do sonho: Parisina, deitada, deixa escapar diante de Azzo o segredo do seu amor por Ugo. O marido atraiçoado passa por todos os furores do ciúme, até que, convencido de que a mulher lhe é infiel, a acorda para lhe anunciar a sua próxima vingança.

Este dueto é dos mais belos, expressivos e terríveis que saíram da pena fecunda de Donizetti. Franz ouvia-o pela terceira vez e, embora não fosse um melómano entusiasta, causou-lhe profunda impressão. Ia portanto juntar os seus aplausos aos da sala quando as suas mãos, prestes a juntarem-se, ficaram afastadas e o «Bravo!” que lhe escapava da boca lhe morreu nos lábios.

O homem do camarote pusera-se de pé e ficara com a cabeça iluminada, de modo que Franz reconheceu nele o misterioso habitante de Monte-Cristo, aquele de quem na véspera lhe parecera tão bem reconhecer a figura e a voz nas ruínas do Coliseu.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069