O Conde de Monte Cristo - Cap. 6: O substituto do Procurador Régio Pág. 42 / 1080

-É de facto muito curioso, Mademoiselle - concordou o substituto. - Porque em vez de uma tragédia fictícia, se trata de um drama autêntico; em vez de dores fingidas, trata-se de dores reais. O homem que se lá vê, em lugar de, uma vez o pano descido, regressar a casa, jantar em família e deitar-se tranquilamente para recomeçar no dia seguinte, regressa à prisão onde se encontra o carrasco. Como sabe, para as pessoas nervosas, que procuram emoções, não existe espetáculo que se lhe compare.

Fique descansada, Mademoiselle, se as circunstâncias o permitirem, proporcionar-lho-ei

- O senhor brinca, mas esse espetáculo causa calafrios! exclamou Renée, empalidecendo.

- Que quer... trata-se de um duelo... Já pedi cinco ou seis vezes a pena de morte para réus políticos ou outros... Pois bem, quem sabe quantos punhais se preparam a esta hora na sombra ou estão já apontados contra mim?

- Oh, meu Deus! - exclamou de novo Renée, empalidecendo cada vez mais. - Fala a sério, Sr. de Villefort? - O mais seriamente possível, Mademoiselle - respondeu o jovem magistrado, de sorriso nos lábios. - E com os bons julgamentos que Mademoiselle de Salvieux deseja para satisfazer a sua curiosidade e que eu desejo para satisfazer a minha ambição, a situação só se agravará. Julga que todos esses soldados de Napoleão, habituados a enfrentar cegamente o inimigo, refletem quando queimam um cartucho ou quando atacam à baioneta? Porventura refletirão mais para matar um homem que julgam seu inimigo pessoal do que para matar um russo, um austríaco ou um húngaro que nunca viram? Aliás, assim é preciso, pois de contrário a nossa profissão não se justificaria. Eu próprio, quando vejo brilhar nos olhos do réu o relâmpago da raiva, sinto-me animadíssimo, exalto-me. Já se não trata de um julgamento, trata-se de um combate; luto contra ele, ele riposta, insisto, e o combate termina, como todos os combates, por uma vitória ou uma derrota. Aqui tem o que é pleitear! É o perigo que dá a eloquência. Um acusado que me sorrisse depois da minha réplica levar-me-ia a supor que falara mal, que o que dissera fora frouxo, sem vigor, insuficiente. Pense, pois, na sensação de orgulho que experimenta um procurador régio convencido da culpabilidade do réu quando vê empalidecer e inclinar-se o seu culpado sob o peso das provas e os raios da sua eloquência...

- Essa cabeça que se baixa cairá

Renée soltou um gritinho.

- Assim é que é falar - disse um dos convivas.

- Eis o homem que é preciso em tempos como os nossos! - observou um segundo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069