O Conde de Monte Cristo - Cap. 45: A chuva de sangue Pág. 451 / 1080

O abade Busoni fez bem em mandá-lo ter comigo e o senhor fez bem em me contar a sua história, pois assim não terei maus pensamentos a seu respeito. Quanto ao malfadado Benedetto, nunca procurou encontrar-lhe o rasto? Nunca tentou saber que fora feito dele?

- Nunca. Se soubesse onde estava, em vez de ir ter com ele fugiria como se foge de um monstro. Não, felizmente nunca mais ouvi falar dele. Espero que tenha morrido.

- Não espere, Bertuccio - disse o conde. - Os maus não morrem assim, pois Deus parece tomá-los sob a sua protecção para os tornar instrumento das suas vinganças.

- Pois seja - concordou Bertuccio. - Tudo o que peço ao Céu é nunca mais o tornar a ver. Agora - continuou o intendente, baixando a cabeça - sabe tudo, Sr. Conde, e é o meu juiz cá em baixo, como Deus o será lá em cima. Não me dirá algumas palavras de consolação?

- Tem razão, com efeito, e posso dizer-lhe o que lhe diria o abade Busoni: aquele que abateu, esse Villefort, merecia ser castigado pelo que lhe fizera e talvez por outra coisa ainda. Benedetto, se vive, servirá, como lhe disse, para qualquer vingança divina e depois será castigado por seu turno. Quanto a si, só tem na realidade uma coisa a censurar-se: pergunte a si mesmo por que motivo, depois de arrancar a criança à morte, a não entregou à mãe. É esse o seu crime, Bertuccio.

- Sim, senhor, foi esse o meu crime, o meu verdadeiro crime, porque me comportei como um cobarde. Uma vez que conseguira trazer a criança à vida, só tinha uma coisa a fazer, como o senhor disse, era restituí-la à mãe. Mas para isso teria de fazer indagações, de chamar a atenção, de me entregar, talvez. Ora eu não queria morrer, tinha amor à vida pela minha cunhada, pelo amor-próprio inato entre nós de ficarmos firmes e vitoriosos na nossa vingança. Ou talvez me agarrasse à vida simplesmente por amor à própria vida. Oh, eu não sou um bravo como era o meu pobre irmão!

Bertuccio escondeu o rosto nas mãos e Monte-Cristo pousou nele um longo e indefinível olhar. Em seguida, depois de um instante de silêncio, tornado ainda mais solene devido à hora e ao local:

- Para terminarmos dignamente esta conversa, que será a última acerca das suas aventuras, Sr. Bertuccio - disse o conde, num tom de melancolia que lhe não era habitual -, fixe bem as minhas palavras, que ouvi muitas vezes serem proferidas pelo próprio abade Busoni. Para todos os males há dois remédios: o tempo e o silêncio. Agora, Sr. Bertuccio, deixe-me passear um instante no jardim.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069