O Conde de Monte Cristo - Cap. 49: Haydée Pág. 485 / 1080

Quanto à sua indumentária, era a das mulheres do Epiro, ou seja, calça tufada de cetim branco adornada de flores cor-de-rosa, que deixava a descoberto dois pés de criança, que dir-se-iam de mármore de Paros se não se tivessem visto brincar com duas sandaliazinhas de ponta recurvada, bordadas a ouro e pérolas; túnica de compridas riscas azuis e brancas e amplas mangas fendidas para os braços, com botoeiras de prata e botões de pérolas, e finalmente uma espécie de corpete que deixava, devido ao seu corte em forma de coração, ver o pescoço e toda a parte de cima do peito e que se abotoava por baixo do seio com três botões de diamantes. Quanto à parte de baixo do corpete e à parte de cima das calças, desapareciam sob uma dessas faixas de cores vivas e longas franjas sedosas, que são a ambição das nossas elegantes parisienses.

Cobria-lhe a cabeça um barretinho dourado bordado a pérolas, inclinado para um lado, e por baixo do barrete, do lado para onde estava inclinado, via-se uma linda rosa natural, cor de púrpura, que se destacava no meio do cabelo, tão preto que parecia azulado.

Quanto à beleza do seu rosto, era a beleza grega em toda a perfeição do seu tipo, com os seus grandes olhos pretos aveludados, o seu nariz direito, os seus lábios de coral e os seus dentes de pérolas.

Finalmente, sobre aquele conjunto encantador imperava a flor da juventude, com todo o seu brilho e todo o seu perfume; Haydée teria dezanove ou vinte anos. Monte-Cristo chamou a criada grega e mandou pedir a Haydée licença para entrar até junto dela.

Como única resposta, Haydée fez sinal à criada para levantar a tapeçaria que pendia diante da porta, cuja abertura quadrada emoldurou a jovem deitada como um quadro encantador, Monte-Cristo entrou.

Haydée soergueu-se no cotovelo do braço com que segurava o narguilé e estendeu a mão ao conde, ao mesmo tempo que o acolhia com um sorriso.

- Porque me mandas pedir licença para entrar nos meus aposentos? Já não és o meu senhor, já não sou a tua escrava? - perguntou na língua sonora das filhas de Esparta e Atenas. Monte-Cristo sorriu por seu turno.

- Haydée, como sabe...

- Porque não me tratas por tu como habitualmente? - interrompeu-o a jovem grega. - Cometi alguma falta? Nesse caso é preciso castigar-me, mas não deixar de me tratar por tu.

- Haydée - prosseguiu o conde -, sabes que estamos em França, e por consequência és livre.

-Livre de fazer o quê? - perguntou a jovem.

-Livre de me deixar.

- De te deixar?!... E porque te deixaria eu? - Sei lá. Vamos ver gente.

- Não quero ver ninguém.

- E se entre os belos rapazes que conheceres encontrares algum que te agrade, não serei injusto ao ponto...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069