O Conde de Monte Cristo - Cap. 49: Haydée Pág. 486 / 1080

- Nunca vi homens mais belos do que tu e nunca amei senão o meu pai e tu.

- Pobre criança, porque quase só falaste com o teu pai e comigo - disse Monte-Cristo.

- E preciso porventura de falar com outros? O meu pai chamava-me sua alegria, tu chamas-me teu amor e ambos me chamam sua filha.

-Lembras-te do teu pai, Haydée?

A jovem sorriu.

- Está aqui e aqui - respondeu, pondo a mão nos olhos e no coração.

- E eu onde estou? - perguntou, sorrindo, Monte-Cristo.

- Tu estás em todo o lado.

Monte-Cristo pegou na mão de Haydée para a beijar; mas a ingénua criança retirou a mão e ofereceu-lhe a testa.

- Agora, Haydée - disse-lhe ele -, sabes que és livre, que és dona e senhora de ti; podes conservar o teu traje ou deixá-lo, como te apetecer; ficarás aqui quando quiseres ficar e sairás quando quiseres sair; haverá sempre uma carruagem atrelada para ti. Ali e Myrto acompanhar-te-ão para todo o lado e estarão às tuas ordens. Apenas te peço uma coisa.

- Diz.

- Guarda o segredo do teu nascimento, não digas uma palavra acerca do teu passado, não pronuncies em nenhuma ocasião o nome do teu ilustre pai nem o da tua pobre mãe.

- Já te disse, meu senhor, que não verei ninguém.

- Escuta, Haydée: talvez essa reclusão muito oriental seja impossível em Paris. Continua a aprender a vida dos nossos países do Norte, como fizeste em Roma, em Florença, em Milão e em Madrid. Isso ser-te-á sempre útil, quer continues a viver aqui, quer regresses ao Oriente.

A jovem ergueu para o conde os seus grandes olhos húmidos e respondeu:

- Ou regressemos ao Oriente, queres tu dizer, não é verdade, meu senhor?

- É, sim, minha filha - respondeu Monte-Cristo. - Bem sabes que nunca serei eu que te deixarei. Não é a árvore que deixa a flor é a flor que deixa a árvore.

- Nunca te deixarei, senhor - disse Haydée -, porque estou certa de que não poderia viver sem ti

- Pobre criança! Dentro de dez anos serei velho e daqui a dez anos ainda serás nova.

- O meu pai tinha uma comprida barba branca e isso não me impedia de o amar. O meu pai tinha sessenta anos e parecia-me mais belo do que todos os rapazes que via.

- Anda, diz-me cá, achas que te habituarás a viver aqui?

- Ver-te-ei?

- Todos os dias.

- Nesse caso, para que mo perguntas, senhor?

- Receio que te aborreças.

- Não, meu senhor, porque de manhã pensarei que virás e à noite lembrar-me-ei de que vieste. Aliás, quando estou sozinha tenho belas recordações: revejo quadros imensos, grandes horizontes com o Pindo e o Olimpo por fundo. Além disso, trago no coração três sentimentos com os quais nunca ninguém se aborrece: tristeza, amor e reconhecimento.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069